sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Ídolos (Fabrizio Miccoli)

Sou uma pessoa que ao ver futebol, raramente consigo colocar um jogador à frente do clube. Não há ninguém maior do que uma instituição, não há ninguém mais importante ou mais valoroso do que um grande clube de futebol. Neste caso, não houve, nunca, nenhum jogador mais importante do que o Sport Lisboa e Benfica e confesso que me faz alguma confusão algumas mentalidades actuais, de idolatrar e venerar jogadores de futebol, quando a real paixão devia ser do clube.

Há casos, muito poucos, em que as duas coisas não podem ser dissociadas. Como foi Eusébio no Benfica, como foi Jorge Costa no Porto, como foram os 5 violinos no Sporting. Isto tudo para dizer que há os jogadores que elevam o nome do clube, e há aqueles que envolvem-se tanto na mística e na história de um clube que mesmo não vencendo com as suas cores, têm definitivamente de entrar na sua história. E o jogador de que vou falar, sem dúvida que entrou na do Benfica.

Lembro-me do dia que se confirmou a vinda de Miccoli para o Benfica. Fiquei satisfeito, o Benfica precisava e tinha muito a ganhar com um jogador das suas qualidades. Era Verão e fui ao Jamor um ou dois dias depois ver o primeiro treino do italiano ao serviço do Benfica. Recordo-me como se fosse hoje dos comentários vindo de alguns espectadores: "Epá, mas fomos contratar um Infantil?!"; "Este é que vai marcar golos??"; "O homem está gordo, precisa de trabalhar muito!".



Eu ria-me. Ria-me porque conhecia bem o ragazzo, mas acima de tudo ria-me da impaciência e inutilidade da perspectiva de algumas pessoas que olham à primeira vez e acham que tiram logo todas as conclusões e mais algumas. O treino continuou (só se tinha efectuado corrida à volta do campo) e depois de alguns exercícios com bola o apronto chegou à desejada peladinha.

Miccoli mexia bem na bola, procurava bem os espaços, mostrava velocidade, e recebia os primeiros aplausos. Mas nunca me vou esquecer de um momento, que estava para vir. Bola na direita no Beto, cruzamento com o Nuno Gomes a tocar para o Miccoli que rematou à meia volta à barra. A bola subiu... o italiano virou-se... e aplicou uma fantástica bicicleta com a bola a entrar mesmo ao ângulo da baliza defendida pelo Quim. O treino acabou, e o mesmo Jamor, os mesmos adeptos, acabaram o apronto de pé a aplaudir esse gesto técnico.

Fabrizio começou logo a conhecer o que era o Benfica e a interagir com o público, agradecendo o apoio e no fundo, mesmo sem saber, a dar uma chapada sem mão aos primeiros críticos que por ventura nunca sonhou que tenham existido.

Miccoli estreou-se com a camisola do Benfica num jogo para a Liga dos Campeões contra o Lille. Fez um jogo fantástico, dos melhores em termos individuais que me lembro de ter visto um jogador fazer na Luz. Esteve em todo o campo, e coroou a sua exibição com um golo de cabeça a terminar o jogo a dar a vitória ao Benfica. O estádio acabou o jogo de pé a gritar por si!



Essa primeira época ficou bastante fustigada com lesões, pelo que o pequeno bombardeiro fez apenas 17 jogos no campeonato, marcando 4 golos. A empatia que criou com os adeptos e a qualidade de jogo demonstrada nos minutos que teve fez do tribunal da Luz um estranho ritual de apoio a um jogador que nada tinha ainda provado de águia ao peito mas que entrou definitivamente nas graças dos adeptos.

No ano seguinte o Benfica voltou a requerer o seu empréstimo e Miccoli numa segunda parte da época longe dos problemas físicos fez 10 golos em 22 jogos e conquistou definitivamente todos os adeptos. As manifestações de apoio eram constantes, o italiano era um dos preferidos da exigente massa adepta «encarnada» e foi com muita tristeza de todos, incluíndo do próprio que só lhe faltou pedir "comprem-me", que o italiano não continuou no Benfica. Palermo foi o seu destino, e por lá continua a brilhar. 10 vezes internacional pela sua Itália, fez 2 golos, um contra Portugal... de canto directo.


Alimento o sonho de ainda o voltar a ver vestido de vermelho e branco. A idade já não é a mesma de outrora, o valor do passe e ordenado também não... mas Miccoli é especial, sempre o demonstrou. Um dia... quem sabe. Resta con Noi Piccolo!

(Liguem as colunas!)


1 comentário:

  1. Sou Sporting Clube de Portugal e devo admitir que Fabrizio Miccoli foi o maior génio nos últimos 20 anos a pisar os relvados de Portugal a par de Balakov, Deco e João Vieira Pinto. Agora é capitão e maior ídolo da história do US Palermo, uma verdadeira lenda viva em Sicilia. As alcunhas "Romário de Salento" ou "El Pibe de Nardo" como o apelidam em Itália assentam-lhe que nem uma luva devido a ter tanto talento dentro de apenas 1,68m de altura (a mesma estatura de Romário e Maradona). Quem olhou para Miccoli nesse 1º treino e disse que ele era "um infantil" não sabia decerto que estava ali um Deus entre gigantes...!

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