sábado, 26 de dezembro de 2009

Money United Football Club


Há pelo menos uma coisa no Mundo que não abdico. Seja no futebol, na vida, ou em qualquer outro espaço assim à primeira vista não observável. Pode ser traduzida por muitos adjectivos. Mas há um que encaixa bem: tradição.

Preso muito o espírito humilde, de agradecimento, dos valores e da história. Algo que o dinheiro não compra - ou não o deveria fazer. Esta crónica vem no sentido de falar sobre um caso que assola o Mundo do Desporto faz alguns anos e chegou agora, irremediavelmente, ao futebol. Eu sempre fui um amante do atletismo e vi com alguma mágoa um país de nome Qatar aparecer cada vez mais na linha da frente das corridas de fundo. Os quenianos, craques na matéria, muitos deles sem grandes posses, venderam o nome, o talento, as raízes e a tradição. Ou Bernard Lagat, por exemplo, ex-campeão do Mundo e Olímpico, queniano, naturalizado americano.

O dinheiro não deveria ser tão importante numa coisa tão bonita como é o desporto. Mas ele chegou ao futebol e é disso que vamos falar. Os clubes do médio oriente estão a ser cada vez mais assolados por grandes milionários árabes que tomam conta de clubes sem qualquer expressão mas capazes de pagar tão bem ou melhor do que clubes da alta roda do futebol europeu.

Para além dos investidores de clubes ingleses, muitos são os que querem levar os seus clubes locais, e onde sentem boas oportunidades de negócio, ao topo. Hoje em dia, deixou de ser menos comum observar os grandes talentos dos países sul americanos rumar a paragens arábias para assegurar o seu futuro de vida.

Olhando para o campeonato do Qatar, país apostado em desenvolver o seu sector desportivo, são vários os nomes que saltam à vista, pelo que fizeram na Europa ou pelas esperanças que tinham em lá chegar.

O líder do campeonato, o todo poderoso Al-Sadd, tem como principal referência ofensiva o brasileiro Afonso Alves, lembram-se dele? Fez uma grande época no Hereenven da Holanda, custou bastante dinheiro ao Middlesbrough de Inglaterra, esteve com um pé no Benfica, e aos 28 anos brilha pelas arábias.

Seu companheiro de ataque, mais desconhecido de alguns, mas que vai aparecendo, é Leandro, brasileiro recém chegado das ligas japonesas (onde defrontou Hulk) e melhor marcador da prova. 24 anos, fará o mesmo trajecto do actual jogador do Porto? Pelo seu talento, muitos europeus teriam certamente a ganhar.

Numa viagem vertiginosa até ao último classificado, observamos apenas um estrangeiro a jogar regularmente. É Lima, ex-jogador do Sp. Braga, lembram-se dele? Regressando aos da frente, observamos alguns nomes compreensíveis, em final de carreira. Juninho Pernambucano, ex-Lyon, vai matando o bichinho e ganhando um bom dinheiro, Adil Ramzy, em grande destaque nos PSV's europeus está por lá também aos 32 anos, mas voltamos aos casos (in)compreensíveis: Diane, formado no PSG, aos 27 anos, na sua plenitude, anda pelas arábias. Marcinho, com passagens por Cruzeiro e Flamengo, na flor dos seus 25 anos, ganha a vida. Pisculichi, apontado como o "novo" Messi e com a mesma idade de Marcinho, joga no Al-Arabi e um dos jogadores que tantas vezes falei para o Benfica, quando faltava o badalado Extremo-Direito, Pascal Feindouno, grande craque do St.Etienne, aos 28 anos no Al-Rayyan.


Observando um pouco mais ao lado, os três clubes mais poderosos dos Emirados Árabes Unidos, os nomes são ainda mais surpreendentes. No Al Jazira, clube com tradição local, observamos os nomes de Ricardo Oliveira, ex-jogador do AC Milan, Betis, Zaragoza ou Valência, e que aos 29 anos vai brilhando nos EAU e Rafael Sóbis, uma das maiores promessas brasileiras da nova geração, que aos 24 anos, depois de três anos no Betis, seguiu as pisadas do seu ex-companheiro.

O Al Wadah, apresenta nas suas fileiras Pinga (formado no Torino) e Magrão (um dos melhores do Internacional de PA nos últimos anos), e o Al Ain com um dos matadores dos últimos torneios argentinos, José Sand, e Valdivia, o craque chileno que passou pelo Palmeiras e aos 26 anos está a passar ao lado de uma das carreiras mais promissoras em perspectiva para um chileno depois de Marcelo Salas.

É estranho tentar perceber, ou procurar fazer perceber, a diferença entre uma grande carreira e uma grande carreira. Se perguntarem a qualquer um destes jogadores eles vão-vos responder que tiveram uma grande carreira porque ganharam mais em termos monetários enquanto profissionais de futebol do que muitos craques que brilham nos principais campeonatos da europa. Depois há os que dizem ter tido uma grande carreira com títulos e prémios individuais de nomeada.

As diferenças, no nosso quotidiano, começam a desaparecer. O dinheiro está a comandar o Mundo, e não há tradições ou valores que resistam. Se este caminho se mantiver, o que teremos daqui a 20 anos? O troféu de melhor jogador do Mundo a ser discutido entre os craques do Al-Jazeera e do Al-Said? Ou as grandes marcas de roupa deixaram os patrocínios das equipas de meio da tabela de Portugal, França, Holanda, Grécia, etc, para verem os seus nomes em todos os desíginios das equipas da Qatar Stars League, deixando assim esses clubes em maiores dificuldades?

4 comentários:

  1. Enquanto houver petróleo isto vai continuar, quando ele acabar, voltará a haver tradições!

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  2. Apesar de se perderem jogadores, a verdade é que a carreira de futebol é bastante curta, e muitos jogadores quando a carreira acaba não tem mais para onde se agarrarem e sobreviverem, portanto tem que aproveitar.

    Também é certo que muita gente simplesmente liga ao dinheiro, tambem é sabido que tirando eternos imortais, a maior parte dos jogadores acaba por cair no esquecimento, e hoje o que é bestial amanhã pode se uma besta. Não se pode ocndenar quem quer aproveitar ao maximo a nivel monetário, acontece na maior parte dos jogadores, uns tentam equilibrar isso com a fama/amor ao clube outros simplesmente não lhes interessa a fama, porque amor ao clube podem no vir a ter.

    Em casos ainda mais raros uns ignoram fama e dinheiro para todo o amor ao seu clube. E um caso de lealdade na minha opinião é Luisão.

    Saudações Benfiquistas.

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  3. Não acredito que as Ligas do Qatar, da Arábia Saudita e Emirados Arabes Unidos virão a ser alguma vez grandes ligas mundiais... Haverá sempre jogadores que irão dar preferência ao sucesso competitivo em locais onde serão reconhecidos...
    E os petrodolares não durarão para sempre vede só o exemplo do Dubai.

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  4. Esperemos que não, mas a manter-se esta toada é uma situação bastante previsível. Hoje em dia tudo se está a virar para os países ricos, começou pelos investidores, passou para as marcas, agora para os jogadores e os treinadores. A evolução das regiões é importante, mas penso despropositado o jogador comum ter no seu horizonte possibilidade de carreira no médio oriente apenas porque vai ganhar bastante dinheiro. Por um lado é compreensível, mas custa a aceitar!

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