Não tem tido vida fácil no campeão nacional Paulo Fonseca. Depois de um trajecto brilhante ao serviço do Paços de Ferreira, a sua mudança para o Porto não tem sido tão produtiva como seria de esperar. Alguns maus resultados, poucas exibições conseguidas, e uma desconfiança em relação ao novo modelo do Porto começa a ser evidente nas hostes azuis e brancas.
Este artigo e o eventual sucesso que Fonseca venha a ter, passa por interligar factores, alguns tópicos que têm ligação óbvia, mas o técnico ainda não os conseguiu ligar: Hulk, James, Lucho e Quintero. Confusos? Vamos desenvolver.
O modelo de jogo do Porto parece transversal a treinadores e jogadores. Os anos passam e algumas nuances vão surgindo, lógico que com jogadores diferentes são criadas dinâmicas e pequenas alterações, mas a base prolonga-se época após época.
O 4x3x3 do Porto continua a ser de posse, mas incaracterístico face ao passado. Isto porque desapareceu a criatividade na zona de decisão. E é aí que o Porto tem sentido as principais dificuldades. Fonseca deu o seu cunho pessoal a um Porto que não pressiona tão alto, não privilegia tanto a posse, mas joga mais largo e de forma mais vertical.
O sucesso passado do Porto deveu-se a uma nuance do seu modelo, interpretada pelos seus melhores intérpretes, que este ano ainda não apareceu. Falamos da posição de extremo direito. Mas antes de falar desse lugar específico, falemos de Lucho.
Com mobilidade, capacidade de progressão e agilidade, foi sempre um dos melhores do campeonato. Continua a ser, mas menos. Hoje não é um jogador tão móvel, e o modelo ressente-se disso. Já se ressentia antes, mas Vítor Pereira é muito melhor treinador do que a maioria julga.
Lucho não consegue estar tão disponível para ligar o sector intermediário ao ofensivo, não consegue ser rápido o suficiente para criar desequilíbrios na zona de decisão, para fazer com que a equipa adversária não tenha tempo para se posicionar, e para conseguir entrar em transições de forma mais recorrente colocando os avançados em contextos de menor inferioridade face à linha defensiva.
O espaço entre os três médios e os três avançados, sobretudo pelo corredor central, mesmo que ocupado a espaços, é fundamental neste modelo, e a capacidade que o Porto tinha em o preencher e o desequilibrar, desequilibrando os adversários, fazia o seu sucesso.
E tudo começou com Hulk. Diagonais venenosas, penetrações interiores a colocar igualdade ou superioridade numérica pelo corredor central. O transporte que fazia, a criatividade que acrescentava, deixava os defesas em situações de igualdade ou superioridade zonal de apenas um elemento. Com o talento individual a vir ao de cima, o sucesso era inevitável para os dragões.
Passou para James. O colombiano desequilibrava o sistema ofensivo de forma propositada. Em organização ofensiva eram inúmeras as vezes que se colocava entre os três médios e o avançado, diminuindo o espaço, permitindo-lhe jogar de frente e pelo corredor central: James e o Avançado contra 2 defesas centrais e um trinco.
Este Porto demora a entender isso. Paulo Fonseca até o tenta pensar, mas não executa nem há adaptabilidade possível com Josué. Falta-lhe repentismo, agilidade e mobilidade para isso. O tempo que demora a chegar, a pouca aceleração, o 1x1 que não é tão imprevisível, facilita a tarefa de quem defende.
E o sucesso estará dependente de Quintero. O jogador que o Porto foi buscar a Itália será, se Fonseca quiser, a chave do puzzle. Repentismo, criatividade, inteligência, qualidade passe, capacidade de remate, capacidade de drible...tudo ao dispor, mas sobretudo, ao dispor do colectivo e elevando o seu nível para outra eficácia. É que Danilo é fortíssimo na zona de decisão, e com Quintero a vir sempre dentro, vai abrir-lhe todo o espaço, também, para aparecer. Jackson não estará tão sozinho, terá mais companhia, menos pressão zonal, menos inferioridade face aos defesas. Com isto, Fonseca resolverá o problema.