Numa altura em que quase todos os sites desportivos online realizam votações para se elegerem os melhores da década nas mais variadas quadrantes do desporto, quero destacar hoje, aqui, neste espaço, aquele que na minha opinião é o melhor desportista da década, o melhor jogador de futebol do Mundo durante, pelo menos, três anos consecutivos, mas que nunca o chegou a ser reconhecido como tal.
Fruto do facto de internacionalmente nada ter ganho ao nível de clubes, de nunca ter sido alvo de excesso de mediatização ou pelo simples facto de não usar penteados extravagantes nem ser notícia pelos piores motivos, a sua carreira fica, para quem o conheceu, como um dos melhores de sempre que viu jogar, mas certamente que em termos de números e reconhecimentos poderia ter, para os que não viram, acrescentado muito mais ao papel.
Já devem ter percebido de quem estou a falar, chama-se Thierry Henry.
Henry nasceu em França há 32 anos, sendo mais um dos muitos franceses com raízes fora do continente europeu. A jogar no US Palaiseau, Henry dava nas vistas e todos falavam de si. Um olheiro do Mónaco deu as melhores referências daquele menino de 13 anos, na altura um prodigio, ao presidente do clube, que evidenciou todos os esforços para garantir o seu concurso, não sendo sequer necessário para Henry fazer os habituais testes no seu novo clube.
Já com idade de Juvenil conheceu Arsene Wenger, então treinador nos monegáscos. O lendário treinador francês tornou-se imediatamente admirador das capacidades do miúdo e chamou-o sem rodeios à equipa principal em 1995, onde Henry se estreou com 18 anos. Em 96-97 conseguiu o seu primeiro título como Sénior, marcando 9 golos nessa temporada, o que o levou a ser chamado à Selecção sub-20 francesa onde disputou o campeonato do Mundo, então ao lado de William Gallás, David Trézeguet, Anelka, Sagnol ou Silvestre, onde foram eliminados nos quartos-de-final frente ao Uruguai.
Henry fez 3 golos e impressionou o seleccionador francês dos 'A', que o convocou quatro meses depois. Estreou-se em grande nível, no ano de 1997, o que levou o técnico a convocá-lo para o Campeonato do Mundo de 1998, precisamente em França, onde se sagrou campeão Mundial ao vencer o Brasil por 3-0, ele que ficou marcado por ter sido substituído ainda muito cedo no jogo face à expulsão de Desailly.
Em 98-99, Henry é um dos principais destaques do Mónaco que chega à Meia-Final da Liga dos Campeões com Tiganá como treinador, onde constavam figuras como Trezeguet, Lamouchi ou Barthez. No final desse ano, a Juventus pagou cerca de 12 milhões de € pelo promissor francês. Henry não se adaptou ao futebol italiano, onde fez apenas três golos e não foi opção na maioria dos jogos dos italianos, pelo que Wenger, profundo apreciador e conhecedor das qualidades do jovem extremo, não hesitou em recuperá-lo pelos mesmos 12 milhões de € na entrada do novo milénio para o Arsenal.
É então que se dá toda a mudança na carreira de Henry. Ele que até aqui era um extremo, passou a ocupar espaços mais centrais e começou aí uma das mais brilhantes carreiras de um jogador estrangeiro na Premier League Inglesa.
Logo no ano de estreia Henry foi insuficiente para levar o Arsenal ao título mas terminou a época com 26 golos apontados. Em grande cotação, Henry sagrou-se campeão da europa no Euro 2000, com um golo de Trezeguet no prolongamento depois de uma grande recuperação dos franceses contra os italianos.
Em 2001-2002, Henry dissipou todas as dúvidas. Marcou 32 golos em todas as competições, levando o Arsenal ao título e à vitória na taça de inglaterra. Em 2002-2003 um dos seus melhores anos de sempre, apesar do Arsenal só ter vencido a FA Cup, fez um total de 42 golos em todas as provas e... 23 assistências... amazing!
Na Taça das Confederações de 2003, levou a França ao título, marcando na final, sagrando-se o melhor marcador da prova e sendo eleito homem do jogo em três dos cinco jogos disputados. Em 2003-2004, no auge da sua forma, Henry fez 30 golos em 37 jogos na Premier League e conseguiu um feito histórico: ao lado de Bergkamp, Vieira, Robert Pires e tantos outros, o Arsenal foi a primeira equipa em mais de um século a vencer a Liga Inglesa sem qualquer derrota.
No ano seguinte, os gunners regressaram à 'seca' de títulos, mas Henry faz 32 golos em todas as competições. Em 2005, depois do abandono internacional de Patrick Vieira, Henry assume a braçadeira da selecção francesa. Bate o record de melhor marcador de sempre do Arsenal, até então record detido por Ian Wright com 185 golos, batendo novo record, desta vez de Cliff Bastin de melhor marcador de sempre do clube na Liga Inglesa, que tinha 151 golos.
O Arsenal voltou a não vencer a Liga no ano seguinte mas Henry levou os gunners à final da Liga dos Campeões, que acabariam por perder para o Barcelona. Dois anos sem títulos, fizeram especular que Henry quereria sair do Arsenal para ser reconhecido todo o seu futebol em termos individuais. A verdade é que o presidente do Arsenal recusou duas propostas (do Barça e do Real na ordem dos 60 milhões de €) e Henry declara fidelidade ao clube renovando por mais quatro temporadas.
Henry leva a França à final do Mundial de 2006, onde perdem nos penaltys para a Itália, e o sonho de repetir o triunfo de 98 desvanece-se. Em 2006-2007 Henry tem então um calvário de lesões (coisa que era rara na sua carreira) e acaba a época em Março, num dos seus piores registos desportivos de sempre. Wenger volta a não vencer nada e em 2007 Henry acaba contratado pelo Barcelona, depois de muita polémica em torno da situação. A gratidão do clube para com o jogador fez com que fossem relutantes em libertá-lo o que deixou os adeptos num estado de nervos.
O seu trajecto no Barcelona tem sido marcado também por títulos, embora não tenha o fulgor individual de outros tempos no Arsenal. É, no entanto, sempre uma das principais figuras dos culés, onde já venceu a Liga Espanhola, a Champions, a Supertaça Europeia e o Mundial de Clubes.
Em termos individuais nunca conquistou o prémio de melhor jogador do Mundo pela FIFA, o que para muitos e, eu afirmo-o plenamente, ter sido uma enorme injustiça. Para mim, é o melhor da década, um dos melhores de sempre.
Henry é o único jogador a ter ganho a Football Writers' Association Footballer of the Year três vezes (2003, 2004, 2006), e já foi eleito o Jogador Francês do Ano quatro vezes, um recorde. Em termos de golos marcados, Henry venceu a Bota de Ouro em 2004 e 2005 (dividindo o prémio com Forlán em 2005), e foi o primeiro jogador na história a ganhar duas vezes seguidas o prémio. Henry também foi o artilheiro da Premiership por quatro temporadas (2002, 2004, 2005, 2006). Em 2006, tornou-se o primeiro jogador a marcar mais de vinte gols na liga por cinco temporadas consecutivas.
Thierry Henry destacou-se por ser um exímio jogador de ataque, capaz de percorrer todos os espaços na fase ofensiva da sua equipa. À esquerda, à direita, ao centro, foi sempre um quebra-cabeças pela sua estonteante velocidade e capacidade de aceleração, um dos jogadores com melhor técnica individual que esteve no mundo do futebol, também dotado de uma grande capacidade de drible. Uma das suas principais virtudes sempre foi a facilidade de remate, encontrando formas e feitios, às vezes inimagináveis, para marcar grandes golos. Era o dono da bola no mítico Highbury Park, antigo estádio do Arsenal, possivelmente o melhor jogador de sempre a actuar naquele relvado. Detém o record de golos pelo Arsenal, com 226 tiros certeiros, algo que dificilmente será quebrado.
Escolham vocês também, num leque de 20, o melhor golo da carreira do internacional francês.
Não esqueço o Zidane, o grande Zizou. Para mim, foi ele. Depois Ronaldinho, a seguir Henry.
ResponderEliminarTambém não me esqueço dos dois, sendo que sou grande fã do futebol de ambos. Agora, Henry foi um ídolo, Henry sozinho levou o Arsenal às costas, Henry fez o inimaginável... e isso também deve ser valorizado.
ResponderEliminarCumprimentos
Acabei de descobrir este blogue e dou logo de caras com uma análise daquele que também foi o meu jogador preferido da década!! Grande análise! Partilho da tua opinião. Para mim Henry foi o melhor da década e o único que se aproxima dele é mesmo o Cristiano Ronaldo (possivelmente será o melhor dos últimos 5 anos). Zidane, Ronaldinho, Kaka, Messi, etc são todos jogadores estratosféricos. Mas o Henry tinha uma característica que eu só encontro comparação possível no Ronaldo e que tu realças aqui na caixa de comentários: o Henry levava a equipa às costas. Foi assim de 2002 a 2006 no Arsenal. Foi assim muitas vezes na selecção francesa. A época de 2003/2004 ficou-me atravessada... O Arsenal foi de longe a melhor equipa da Europa, fez uma campanha assombrosa na Premier League e tinha futebol para ganhar a champions. Infelizmente baixou um pouco a guarda nos 1/4 de final frente ao Chelsea de Ranieri e foi isso que abriu caminho à vitória do FCP. Caso contrário esse teria sido o ano de coroação do Henry (à semelhança daquilo que o Cristiano Ronaldo fez em 2007/2008). Mesmo assim creio que nesse ano foi totalmente injusto ele não ter sido distinguido como melhor jogador do mundo. A Bola de Ouro e o prémio da FIFA já foram injustos por diversas vezes, mas essa terá sido a maior injustiça de todas! Vou incluir o blogue nos meus favoritos!
ResponderEliminarObrigado pelo comentário e preferência David. Realmente, hoje em dia é complicado fazer o que Henry fez. As equipas e as estratégias passam por conseguir anular os pontos fortes do adversário e toda a gente sabia que o Arsenal era praticamente... Henry e + 10. Mesmo assim, ele soltava-se e fazia coisas fantásticas. Levou literalmente a equipa às costas e nesse ano que referes, foi sem dúvida uma desilusão enorme quando soube o vencedor do troféu de melhor do Mundo, pois ele merecia-o totalmente.
ResponderEliminarHenry esteve inserido numa equipa sem outros grandes nomes (numa fase mais avançada de Arsenal) e era realmente um jogador extraordinário. Todos os outros candidatos a melhores da década estiveram e estão inseridos em grandes equipas, grandes máquinas de construção, e acabaram por se destacar pelo seu enorme talento mas muito por ajuda dos que ao seu lado estavam. Henry nem sempre teve isso e resolvia sozinho.
Abraço
André Sabino
Atenção, eu também adoro o Henry, e aquela época de 2005/06 foi épica, apesar de não ter ganho nada, mas levou um clube fraco (tendo em conta a cena mundial da altura) e uma selecção débil à final da Champions e Mundial respectivamente.
ResponderEliminar