domingo, 8 de agosto de 2010

Fábio Coentrão, Jorge Jesus e a banalidade


Continuo a ficar surpreendido e estupefacto com a opinião pública (leia-se, adeptos) nos momentos seguintes aos desaires ou exibições menos conseguidas dos jogadores do seu clube. O Benfica acabou por perder ontem - e bem - pois o Porto revelou-se mais forte em todos os momentos do jogo, o que torna realmente surpreendente o desfecho do jogo, porque uma equipa com os processos tão bem consolidados em relação às novidades dos azuis e brancos, não pode ser tão inofensiva como o Benfica ontem foi, independentemente dos jogadores que ontem faltaram, pois as dinâmicas que eles imprimem, não podem suplantar a organização estrutural e funcional da equipa.

Mas o meu comentário de hoje recai sobre Fábio Coentrão e mais propriamente sobre a sua utilização como Médio Ala Esquerdo no jogo de ontem. A "descoberta" de Jorge Jesus, surge por um ponto fundamental: Coentrão, o ano passado, estava a ser dos jogadores mais fortes do Benfica numa altura em que Dí Maria crescia a olhos vistos. E como não poderia, nem um nem outro, ser opção de recurso, conciliou-se os dois pelo elevado volume ofensivo do jogo do Benfica.

Ou seja, partimos para um ponto inicial: Coentrão a Médio Esquerdo reclamou na época passada o lugar de titular ao novo galáctico do Real Madrid. Talvez por não ser assim tão banal a Ala Esquerdo. E comparações com Miguel do Valência... o que têm em comum? Miguel sempre foi um extremo curto, cresceu muito como lateral... Coentrão é um jogador de topo quer como lateral quer como extremo.

A qualidade dos jogadores e o espaço que ocupam são dois factores que não se dissociam e Coentrão pela forma agressiva como aborda as zonas de pressão, a facilidade e integração em momentos ofensivos, o drible e a velocidade que imprime nos seus lances, e sobretudo, em termos estratégicos, a forma como explora e dá largura e profundidade ao corredor, foi o que levou Jesus a colocá-lo ontem como extremo.

Face a uma organização funcional e estrutural que pretendeu ser equivalente ao ano anterior, frente a uma equipa muito forte a meio-campo (o recente 4-3-3 poderia ter problemas), Coentrão surgia como elemento fundamental na forma como puxaria Hulk para trás e obrigava invariavelmente em transição o centro de jogo a mudar daquela zona, explorando o corredor contrário.

Acontece que do outro lado esteve um super Varela. Em termos estratégicos percebo exactamente o que quis ter Jesus, obrigando os médios em acção de pressão e cobertura do Porto a caírem no seu flanco direito, caindo Saviola no flanco oposto de forma a explorar esses espaços.

Foi tudo certo sob a minha forma de observação. Acontece que as dinâmicas colectivas, sobretudo pelas acções individuais, não corresponderam ao esperado no plano táctico. César Peixoto foi dos melhores ontem. E por aí se vê a mediania em que esteve o Benfica ontem. Uma falta gritante de ocupação do espaço central entre a zona de construção e zona de decisão, pois como Saviola foi um intenso explorador de outros espaços, era necessário mais de Aimar nessa zona. E o argentino não o conseguiu fazer por uma falta de fulgor que me surpreendeu. Com a entrada de Jara o Benfica mudou e cresceu, pois essa foi uma debilidade evidente e corrigida.

Contas feitas, parece-me evidente que o Benfica necessita de outro jogador, quem sabe dois. Um Médio Interior, capaz de ocupar os espaços de ligação entre fase defensiva e ofensiva do jogo com a mesma eficiência de Ramires, forte nas transições e com poder de largura no jogo. E, se for possível, um jogador com as características que tem um dos nomes que mais se fala... Ben Arfa. Jogador de corredor central capaz de ocupar também uma faixa, de criação e velocidade. Sobretudo, a expectativa de Jesus foi essa. Pois Coentrão, jogue onde jogar, é um jogador de topo.

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