quarta-feira, 4 de agosto de 2010

O pragmatismo-cinismo de Mourinho


Ao ler hoje as declarações de Casillas, o novo capitão do Real Madrid, fiquei com um pensamento bem mais claro em relação ao que tem sido o mais importante de todos os empregos de José Mourinho: a preparação.

Em termos de transferências sonantes, pouca coisa, como vem sendo seu hábito. Há sim, algumas alterações de fundo, e essas passaram pela saída das velhas raposas Guti e Raúl. Certo... tem havido uma onda de elogios e um recordar das inquestionáveis qualidades da personalidade Raúl e a aquilo que vou escrever é antagónico ao que todo o Mundo diz. Mas vou dizê-lo.

Mourinho cedo percebeu que para contrariar as rotinas e os hábitos de um clube gigante com resultados perdedores, tinha de mexer na base. E a base chamar-se-iam os donos do balneário, os jogadores capazes de virar os jogadores contra o treinador e, inquestionavelmente, fazerem com que o transfer seja nulo relativamente ao passado por qualquer técnico.

Mourinho é o melhor do Mundo pela humildade que tem em perceber que não consegue tudo sozinho e que é preciso mexer pois, por vezes, há pessoas mais fortes do que ele. Com as saídas de Guti e Raúl (e eu digo já que não acredito que os antigos treinadores do Real são tão maus como têm sido apregoados), Mourinho tem controlo total no balneário, pois a figura principal do clube passou a ser ele e não os pesos pesados da casa.

Retirou de cena, com glória, com despedidas gigantes, saudades imensas, os donos do clube. E ele, rindo-se na retaguarda, assumiu a liderança. Mourinho é, sobretudo, um génio pela forma simples como transforma o difícil no fácil. E fê-lo, uma vez mais.

Num clube de topo, com imensos títulos, a precisar de recuperar a história, Raul e Guti já nada têm a vencer no Mundo do futebol. Eles próprios o disseram. A ambição que já não têm, a determinação que se perdeu um pouco por todos os títulos que foram conquistando, fez Mourinho perceber que no seu balneário os líderes têm de querer ganhar, ganhar muito e muitas vezes.

Foi assim com o núcleo duro Vitor Baía, Jorge Costa, Deco e Derlei, foi assim com os então pouco galardoados John Terry, Frank Lampard e Drogba, e vai ser agora com um colosso ainda à procura das suas maiores façanhas a nível individual.

1 comentário:

  1. Muito bem observado.

    Absolutamente significativo, e a maneira como os ajudou a sair pela "porta grande" só demonstra que mais uma vez, "mais a dormir do que os outros todos acordados".

    Parabéns pelo blog, só hoje o descobri, vou estar atento =)

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