quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Os últimos 10 românticos, o fim de linha dos maestros

Quando Rui Costa e Zidane terminaram as suas carreiras, o fim de linha estava próximo. O futebol de hoje está diferente, e determinado tipo de jogadores encontra nuances diferentes no futebol de hoje que nada têm a ver com o de há uns anos atrás. Tenho a convicção que jogadores como Rui Costa e Zidane, teriam uma expressão menor se tivessem hoje, 2010, 18 ou 19 anos e a carreira de ambos estivesse a dar os primeiros passos.

As linhas estão cada vez mais próximas, o bloco é cada vez mais coeso e inteligente na pressão e, hoje em dia, é minha convicção, o 10 clássico, de vir buscar jogo atrás, de delinear lances a partir da retaguarda, deu lugar a dois tipos diferentes de jogador: o 6, que surge como primeiro elemento da zona de construção da equipa (que Redondo iniciou de forma esplêndida, e Pirlo assim o continua) ou um 10 moderno, um extremo fabricado de jogador de zona central, capaz de cair em espaços laterais e aparecer bem a finalizar.

No entanto, o estilo, a classe, a sobranceria de tanto talento, por vezes, é inquestionável nos jogadores que entram na elite dos 10 modernos. Foram sempre os mais virtuosos, desequilibradores, e apaixonados jogadores que vi jogar. Há muita gente que confunde técnica com finta. Estes eram os verdadeiros reis da técnica. Do passe, do toque de bola, da condução, das recepções orientadas, do passe longo e dos cruzamentos ou remates... técnica? É tudo isso, e não apenas o drible.

Hoje irei falar dos dois últimos jogadores no futebol Mundial desse estilo, por vezes algo "molengão", sem a expressividade e a estonteante velocidade de processos de outros, mas com uma classe e eficácia qualitativa, só ao nível dos predestinados.

Quem sabe, nunca esquece

E não faria mais sentido. Juan Sebástian Verón, percebeu cedo de mais que as suas características de jogo se adequavam de melhor forma a posições mais recuadas do terreno. Longe dos espaços de pressão mais altos, ele soube ser um 8 disfarçado de 10, com liberdade para definir acções e ritmos.



Nasceu para o futebol no Estudiantes de la Plata, saindo para o Boca onde fez 17 jogos, tendo permanecido no clube de Maradona apenas 6 meses. O seu futebol era vistoso e Itália foi a sua seguinte paixão, realizando duas épocas de grande regularidade na Sampdória. De lá acabou por fazer do Parma ponte para a Lázio, onde conheceu algum do seu maior sucesso a nível desportivo, dando nas vistas ao ponto de convencer Ferguson a realizar a sua contratação.

42 milhões de euros, isso mesmo, o que o United pagou à Lázio pelo talentoso argentino. Foram três anos de confirmação no Manchester, onde ganhou um título, e mostrou ao Mundo de forma mais clara toda a sua qualidade. Quando Abrahmovic, o excêntrico russo entrou para o Chelsea, "Seba" foi um dos seus maiores desejos, e acabou por se transferir para Londres, onde não convenceu José Mourinho a continuar com ele, tendo sido emprestado ao Inter.

Foram dois anos de brilhantismo em Itália, onde venceu com o Inter um campeonato, duas taças e duas supertaças. Verón, presença constante na selecção das pampas, entendeu, aos 30 anos, que o seu percurso na Europa estava terminado.

Regressou a casa, de onde nunca deveria ter saído, confessa tempos depois, para jogar no Estudiantes. Há o mito que os grandes jogadores regressam aos pequenos clubes onde se formaram para pendurar as botas e fazer a transição do futebol de alto nível para a reforma. Verón encarregou-se de provar o contrário.



Já levou o Estudiantes a uma final da Libertadores, sendo eleito há dois anos consecutivos, o futebolista sul americano (a jogar naquele continente) do ano. Actualmente, com 34 anos, recusou receber o salário monstruoso que sempre auferiu, dando esse dinheiro às camadas jovens do clube. Um exemplo a seguir!

Não me lembro de outro jogador naquela altura, que tenha movimentado tanto dinheiro na sua carreira por contratações. Seba jogou em 8 clubes, gerando-se à volta de si, só em transferências... 117 milhões de euros.



O mago dos momentos mágicos



Juan Roman Riquelme ou 10 romântico, quer dizer exactamente a mesma coisa. É o espelho de uma geração de grande qualidade que está a terminar. Jogador de personalidade forte, passou quase toda a vida no seu clube do coração, o Boca Juniores.

Foi de lá que se transferiu para o Barcelona, onde não foi feliz, mas encontrou concretização europeia no seu seguinte clube, que acabou por liderar e traduzir-lhe expressão completamente diferente. O Villarreal, com ele, encontrou um comandante que antes não tinha, tendo atingido as últimas rondas da Liga dos Campeões e elevado o estatuto de um clube modesto, que pertence a uma vila espanhola sem o número de habitantes suficientes para encher o Estádio do submarino amarelo, a níveis inimagináveis.

Riquelme ganhou tudo na Argentina a nível de clubes e de selecções jovens, onde de facto lhe auguraram sempre um futuro ao nível dos predestinados, ao nível, e o sucessor natural, de Maradona. Não o foi por não ter explanado ao mais alto nível e da melhor forma, todo o talento que tinha e que deixou, certa parte dele, no futebol de formação, mas o que tinha era inegavelmente do melhor que se viu na última década do futebol.



Um 10 com inegáveis recursos técnicos, usava e abusava da finta para se divertir em campo, onde ficarão para a história alguns dos dribles mais vistosos que alguém fez no Mundo do futebol. Ontem um jovem jogador perguntava-me qual era a melhor finta do Mundo, eu respondi-lhe que era a que iria dar golo, e Riquelme por vezes esquecia isso.

Sempre fez do futebol e do jogo um Mundo muito próprio, com os rasgos e o talento ao nível de quem realmente tem um dom, mas que com mais objectividade, teria catapultado a sua carreira para um patamar dos todos-poderosos da história do jogo.

Foi distinguido pelo jornal "El País" o melhor jogador do Mundo no ano que deixou o Boca para jogar no Barça. Actualmente está em casa desde 2007, quando entrou em litigio com Pellegrini no Vilareall, o actual treinador do Real Madrid, tendo recusado jogar na Selecção Argentina com Maradona, pois não gosta, e entrou em choque, com aquele que todos o apontaram ser, no meio de tantos, como o verdadeiro sucessor de Dieguito.



3 comentários:

  1. concordo em grande parte com o que escreves, mas acho que falta aí uma posição quando falas dos actuais 10. falas no 6 estilo pirlo e redondo e no 10 que parte da ala (os exemplos não são tão evidentes, mas estou-me a lembrar do kroos no leverkusen e do ronaldinho nos tempos do barça), mas não falas nos 8. Jogadores como Deco, Lucho e Xavi são mais que médios centros. no seu melhor, fazem todo o jogo da equipa passar por eles (ao estilo dos "antigos" 10)

    já agora, deixo aqui alguns nomes que acho que devias ver:
    loic remy (extremo/avançado,nice), matias defederico (extremo/segundo avançado,corinthians), pablo velazquez (avançado,libertad/rubio ñú), matias abelairas (extremo/interior,river plate) e christopher toselli (gr,univ. catolica)

    continua a brindar-nos ;)

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  2. Boas!

    De certa forma tenho de concordar, mas quando eu me referia à posição de 6 ou 10, não coloquei os 8 por uma simples razão. O número 6 está completamente transfigurado, é hoje o jogador que define praticamente a forma como a equipa se organiza no seu processo ofensivo e defensivo.

    Vejamos, se o trinco, ou o 6, é o jogador que define a primeira fase de construção, a equipa tem de ter dentro da sua metodologia de jogo processos que se adequam à transição ofensiva e organização ofensiva da equipa. Se o trinco faz pressão alta, toda a equipa tem de fazer pressão alta (e a defesa naturalmente tem de jogar subida). Se o trinco pelas suas características ou por estratégia baixar, toda a equipa tem de actuar num bloco mais baixo.

    O 10, mantém-se a posição, mas lavou a cara. Joga de forma diferente, adequa o seu jogo de forma diferente, participa nas acções de jogo de forma diferente. Eu quando dou o exemplo do extremo "fabricado", refiro-me, por exemplo, a um Ronaldinho, a um Messi, a um Simão (com Fernando Santos), a um Granero, a um David Silva, só para citar alguns exemplos. São jogadores caracteristicamente de equilíbrios e de corredores laterais mas que estão hoje mais desenvolvidos tacticamente, mais fortes entre-linhas, mais capazes de assumir o transporte em transição ou em contra-ataque... são os 10 modernos.

    E o 8 não é tanto assim, apesar de mexer, invariavelmente no jogo da equipa, e citas o nome de Xavi e Iniesta que são, para mim, os dois jogadores mais fulcrais no futebol mundial, e que se eu pudesse escolher 2 jogadores para a minha equipa, era esses 2, mas não se adequam tanto à palavra "10 romântico", daquele jogador de extraordinária capacidade técnica, passe e progressão, da posição 10, ofensivo, de vir buscar o jogo atrás, atacar muito e defender pouco ou quase nada, preencher espaço de forma correcta e ser ele o dono da bola (transições, organização, ritmos, espaços, bolas paradas, etc). Xavi e Iniesta não são tanto assim. Riquelme, Verón, Rui Costa, Zidane, Pirlo eram isso e muito mais!

    Quanto à tua lista, excelente, conheço bem o Loic Remy, o Defederico e o Abelairas que quero ver mais, fico então com maior entusiasmo para ver o Velazquez e o Toselli mais de perto!

    Um abraço e muito obrigado pela opinião

    André Sabino

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  3. Os últimos grandes 10 foram mesmo Zidane, Rui Costa, Verón e Riquelme na minha opinião. Mas Riquelme deliciava-me completamente tinha capacidade técnica do melhor, visão de jogo excelente e referenciei-o porque com muita pena minha nunca lhe foram dadas verdadeiras opurtunidades no Barça.
    O Rui decerteza que está no top 20 de jogadores das últimas décadas era muita classe a espalhar em Florença, San Siro e na Luz. Um ídolo por todos os clubes por onde passou.

    Zidane era simplesmente Zidane... Para mim o melhor jogador que vi jogar a par de Ronaldo o fenómeno.
    Estes eram além de maestros, os verdadeiros donos da bola...

    Quanto ao futuro tenho esperanças num David Simão para que esta linha de jogadores não desapareça.

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