segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

A eficiência e eficácia ao serviço do espectáculo


A beleza do futebol traduz-se nas fintas, nos rasgos, no brilho que os intervenientes trazem para o jogo. Sem dúvida. Numa versão mais adequada às necessidades actuais, não existe nada no mundo do futebol que substitua o significado de uma palavra: eficiência. Ela resume, no meio de tantas nuances que podem existir num jogo de futebol, as necessidades obrigatórias que qualquer jogador tem de trazer para dentro das quatro linhas: eficácia.

Acontece que, o mais difícil nos dias de hoje, é encontrar jogadores que dentro do seu rendimento totalmente virado para a equipa e para o sentido objectivo do jogo, conseguem inserir-se na raíz do espectáculo puro do futebol técnico e brilhante, realizando esses movimentos sem a exuberância dos grandes artistas, mas que encarnam o papel dos verdadeiros realizadores do mundo dos espectáculos que o futebol pode produzir.

A sua forma de estar em campo, a subtileza e inteligência de todos os movimentos, a dimensão qualidade-eficiência-eficácia que acrescentam em todos os momentos do seu jogo, faz deles jogadores indispensáveis para qualquer treinador direccionado para as vitórias e sentido qualitativo do jogo.

Existem na Liga Portuguesa dois jogadores que são o espelho de toda esta situação que me venho referindo.

Alan, jogador do Sporting de Braga assume-se, na minha opinião, como o jogador mais valioso a actuar em Portugal. Não pelos malabarismos - que não faz -, não pelo mediatismo - que não tem - e muito menos pelas capaz de revista que, nunca, produziu. Alan é o expoente máximo do extremo clássico com raízes modernas, capaz de perceber todos os movimentos inerentes à sua metodologia de jogo, conhecedor dos terrenos laterais de profundidade e verticalidade do seu futebol, mas que vem denotando ao longo dos anos uma grande evolução sob o ponto de vista do jogo interior, de espaços curtos, da progressão e ruptura de espaços.


Vem, de forma sustentada, num nível qualitativo extremamente interessante e, actualmente, parece-me a peça chave de todo o futebol do Braga. Não descurando a importância de Vandinho em toda a estrutura do bloco bracarense, ele sim, o grande definidor de ritmos e momentos do jogo da equipa do Minho, mas Alan surge como principal jogador na organização ofensiva da equipa, pela capacidade de criar desequilíbrios e dar à equipa diferentes formas de se posicionar em campo e esticar o jogo ofensivo, quer por profundidade e em consonância com o cada vez mais culto Paulo César, quer em movimentos interiores de um dois toques e eficiência na hora de fazer golos.

Quanto a mim, aos 30 anos, surge no auge da carreira que possivelmente conhece esta temporada o seu percurso de maior glória. Se em termos físicos, e porque é um jogador profissional e sem histórico de lesões ao longo da carreira, aparenta estar na sua plenitude, não serão os seus 30 anos que o impedirão de subir um patamar em termos qualitativos na sua carreira. Eu acredito ainda que o estigma idade tem de ser desvalorizado.

O outro exemplo mais do claro cabe no corpo de Javier Saviola. Como já tive oportunidade de dizer em várias circunstâncias, o argentino do Benfica aparece neste momento como o principal jogador de toda a manobra ofensiva do Benfica, pela inteligência e subtileza de todo o seu futebol. Arrisco-me a dizer que é o argentino que define a forma como o Benfica sai em ataque ou organiza o seu processo ofensivo.


A extrema inteligência para perceber todos os momentos do jogo e conseguir posicionar-se de forma muito importante nos espaços entre-linhas concedidos pelo adversário, arrastando zonas de pressão e abrindo espaços para os seus companheiros, ou com bola, denotando enorme capacidade de progressão com bola e de furar, na sua espectacular finta curta e capacidade técnica individual, aliando isso à forma como aparece em zonas de finalização nos espaços então "esquecidos" pelo adversário, constituem um dos melhores jogadores que já vi actuar neste campeonato.

E atenção que eu faço uma distinção. Javier Saviola o melhor. Alan o mais valioso. São situações diferentes. No entanto, e tenho a certeza que Domingos e Jesus partilham a mesma opinião do que eu, se um clube da dimensão do Braga tivesse a possibilidade de escolher um dos dois, a hipótese recairia em Alan. Ao tratar-se do Benfica, Saviola sem dúvida.

Isto porque a equipa bracarense que dá importância percentual à dimensão transição ofensiva e eficiência de processos ofensivos e aí, um jogador como Alan é completamente preponderante pelas facilidades e qualidades que oferece ao futebol da sua equipa.

Num futebol de ataque organizado, de ruptura de espaços, de finalização e inteligência em progressão e basculação, sem dúvida que Saviola surge como um dos jogadores mais magníficos do futebol mundial actualmente. Daí escolher-se Saviola.

Como é bonito este futebol que se mistura o brilhantismo das capacidades técnicas individuais com a qualidade de processos e talento sob o ponto de vista colectivo e inteligência táctica. Se todos fossem assim...

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