sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Formação e as vitórias das selecções



Portugal voltou a realizar uma grande campanha ao nível das selecções jovens, depois do Mundial de sub-20 onde se sagraram vice-campeões. Desta vez foram os sub-19 na Hungria que apenas foram batidos pela Alemanha na final. Estes são, contudo, resultados que não nos mostram a realidade do que se passa no nosso futebol.

O talento de rua está cada vez em mais risco de desaparecer. Mas a culpa não é só das novas modas e da nova sociedade. A culpa é também dos clubes, dos treinadores, dos dirigentes, dos modelos competitivos, da cultura do próprio país. Em Portugal continua a brincar-se à formação, às vitórias e ao sucesso, quando se devia desenvolver um trabalho sério ao nível da formação de jovens talentos e da preparação das suas competências para o futebol profissional.

São poucos os clubes que abdicam de uma vitória esporádica para potenciar um jogador. O problema não está só na questão de "saltar etapas", ou como defendemos, preparar o jogador no contexto competitivo que lhe permite maiores estímulos e que coloca o jogador perante as dificuldades ideais para uma maior evolução. Está também nos modelos que os treinadores praticam actualmente. Coisas fechadas, sem espaço para o improviso, para a liberdade, para o erro, porque o resultado final continua a ditar processos no nosso futebol.


Portugal hoje jogou com a Alemanha na final de uma prova europeia que se deu ao luxo de não convocar os 5 melhores jogadores da idade (Leon Goretzka, Serge Gnabry, Timo Werner, Max Meyer e Jonathan Tah) por considerarem que estão já em outro patamar. Não se importaram com o resultado final. Quiseram formar, e acabaram a ganhar. Jogadores já noutro patamar, como alguns dos seleccionados, já com bagagem de 1ª e 2ª Liga alemã.

Honra feita ao FC Porto por ter Ivo Rodrigues e Tomás Podstawski todo o ano a competir na 2ª Liga, tal como esporadicamente Rafa e André Silva, ou Riquicho no Sporting. Do outro lado é um iate, onde as máximas exigências são num campeonato nacional de Juniores que prepara muito pouco os jogadores para outros patamares de exigência.

Desengane-se quem pensar que este resultado fará as pessoas mudar a sua forma de dirigir ou de apostar no jovem talento nacional. Vamos analisar os 11's de Portugal e Brasil que disputaram a final do Mundial sub-20 e perceber onde estão os jogadores nos dias de hoje:


Há comparação possível? Tendo em conta que falta, ainda, por exemplo, Phillipe Coutinho, do Liverpool, que acabou por ser substituído neste jogo? Não é só questão de falta de aposta, é questão de em Portugal se preveligiar modelos resultadistas em vez de modelos que permitam a evolução dos atletas.

Chega-se a estes momentos e as selecções até acabam por ter alguns resultados de qualidade mas pelo facto dos seus atletas raramente serem colocados em níveis de exigência que lhe permitam outros níveis de maturação e reais possibilidades de evolução, o seu talento momentâneo a certo momento acaba por se diluir e perder no tempo.


O que teria sido desta geração de 2011 na Colômbia com outro trabalho de base e outra continuidade de aposta neles? Hoje é fácil apontar pouca qualidade a quase todos os seus intervenientes. Pois. Depois do mal estar feito, realmente não há como voltar atrás.

Portugal precisa urgentemente reformular todos os seus modelos e todas as ideias impostas na nossa sociedade, que por vezes são o que define e condiciona qualquer tipo de trabalho que se pretenda fazer a nível de clubes e selecções.

2 comentários:

  1. Boa noite caro André,

    Desde já permita-me endereçar-lhe os meus cumprimentos, mas permita-me discordar dos seus postes no tópico de SerBenfiquista.com - Fórum de adeptos do Sport Lisboa e Benfica »
    Sport Lisboa e Benfica» Camadas Jovens» Época 2014/2015 - Todos os escalões.
    No seguimento dos seus comentários que afirma que o porto trabalha melhor a formação quantos foram lançados?
    Diz que a seleção de sub 19 tinha 5 do porto e 1 do Benfica, o sub 17 quantos tinha do Benfica?
    O ano passado na equipa principal tínhamos o Cavaleiro e André Gomes, este ano estão 7 da formação com a equipa principal, o porto que trabalha bem tem 1 e 3 portugueses no plantel tendo os mesmos indicado que o projeto visão 611 foi um fiasco (basta ver a opinião de alguma blogosfera dragaodoente.blogspot.com).
    Estamos a trabalhar assim tão mal, quando temos mais jogadores nas seleções jovens?
    Quando o melhor jogador da segunda liga nos últimos 2 anos tem saído da nossa formação?
    A base da equipa B no ano passado tinha entre 7 a 9 jogadores no onze vindos da formação.
    Não será que para que esse trabalho seja mais visível e tenha mais frutos na equipa A tenha um treinador formador? Será que os nossos adeptos estarão preparados para apoiar os erros dos nossos meninos.
    Concordo consigo quando diz que jogadores como Renato Sanches, José Gomes, João Nunes, Guzo, etc. face a sua morfologia e capacidade deveriam estar um escalão acima pois iriam evoluir mais devido a competitividade ser mais exigente.
    Mas creio que estamos a trabalhar bem o que necessitamos volto a frisar será um formador que crie uma matriz técnica/ tatica entre as equipas A B e juniores para que a medida que o atleta vai subindo já vá com preparação e alguma maturidade para que saiba interpretar melhor o que lhe é exigido, (tipo modelo do Ajax e Barcelona).
    Seria o meu sonho ver no Benfica o modelo que vejo nessas equipas que com muita gente da formação vão encantando o mundo.
    Grande abraço
    Saudações benfiquistas

    RUI AGOSTINHO

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  2. Obrigado pelo seu comentário Rui Agostinho.

    Relativamente às questões que colocou. Na minha opinião o Porto trabalha melhor na formação que os outros clubes e explico porquê:

    - Investe bem menos e os recursos são muito menores. Contrata basicamente na sua região, ao contrário dos outros dois, que é de Norte a Sul. Logo aí teoricamente parte atrás.

    - Tem um modelo de jogo transversal muito menos rígido e amarrado do que o do Benfica.

    - Tem um protocolo de acordo com o Padroense que lhe permite colocar os jogadores de primeiro ano a competir no escalão acima, tendo conseguindo a proeza de ter 2 equipas suas na fase final de sub-17 há uns anos (os frutos começam-se a ver agora).

    - Tem os seus melhores jogadores Juniores a competir o ano inteiro na 2ª Liga, não baixando uma única vez, permitindo depois à Selecção sub-19 ter a sua base de jogadores mais maduros e com outra embalagem para serem vice-campeões da Europa.

    - Faz bem a ponte entre o que é recrutar, formar 1/2 anos e lançar na primeira equipa, com exemplos concretos de Atsu e Abdoulaye, por exemplo.

    - Tem uma linha orientadora a nível de aposta nos seus jogadores, dando-lhes chances nos escalões seguintes e notando-se critério nas suas escolhas: Ruben Neves na equipa A é só um exemplo.

    - Com menos recursos fazem bem mais e melhor que os outros: continuam a ter muitos jogadores de qualidade a sair para as divisões profissionais em Portugal e continua a ser o 2º clube com mais jogadores da sua formação nas principais divisões europeias dos clubes portugueses.

    Quanto a números, isso serve apenas para "enganar", pois esses tais da formação do Benfica não são aposta, como sabe, não há critério nas suas gestões de carreira, e dificilmente esses miúdos dessa forma, por muita qualidade que tenham, conseguirão atingir um patamar de excelência no Benfica.

    Foi assim com André Gomes, está a ser assim com Ivan, e será assim com Cancelo e Bernardo, por este andar.

    Trabalhar mal é quando se tem tanto e com tanta qualidade, e se faz tão pouco.

    Mau é quando não se forma em condições apenas com o objectivo de ganhar (deixar os melhores no seu escalão, ao contrário do que fazem os rivais) e ainda assim perder para Guimarães e Braga.

    Saudações

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