sábado, 2 de agosto de 2014

Emirates Cup day 1



Não se pode dissociar as fases do jogo nem os seus momentos uns dos outros, mas a verdade é que este Benfica parece quase uma equipa de duas caras e de dois níveis distintos. Mas tudo é fácil perceber e de ser explicado pelo nível individual dos jogadores dos diferentes sectores da equipa.


Tinha sido possível observar dificuldades do Benfica no processo ofensivo e na inexistência de mobilidade e dinâmicas que permitissem jogo entre-linhas e combinações directas em progressão como as equipas de Jesus sempre nos habituaram. Hoje foi possível ver melhorias nesse aspecto e graças à inclusão de Gaitán sempre pelo corredor central, algo que já aqui vem sendo dito desde o primeiro dia de pré-época. É realmente o jogador mais forte da equipa no corredor central na penetração e agressividade com bola e qualidade de critério e decisão.

Com as rotinas já criadas e pelos lances que foi inventando com Lima e Salvio, que mesmo ainda a níveis baixos de produtividade face ao que já mostraram em outra altura, foi possível ver um Benfica mais ligado entre sectores na fase ofensiva e a permitir alguns lances interessantes. Mesmo gostando de Ola John, não agarrando estas oportunidades, fica difícil para ele. Quase sempre a decidir mal (coisa que não é normal) e a ter problemas em combinar com os colegas.


Mas o que explica os números e o baixíssimo grau colectivo da equipa no dia de hoje é o processo defensivo. Não é normal em Jesus, mas explica-se pelos nomes. Artur, Maxi, Sidnei, César e Eliseu. São 4 elementos novos, mais Maxi que nem sempre jogou o ano passado. Sidnei e César não controlam o espaço e não conseguem ter referências espaciais para jogar, abrindo constantemente espaços e tendo problemas na reacção aos maus posicionamentos que ocupam. O próprio Eliseu, que revela qualidade com bola, tem problemas graves a nível defensivo, coisa que já se sabia, mas que é possível melhorar com Jesus.

Basicamente este quarteto nunca se encontrou nem consegue jogar de forma coesa e concentrada, algo que existia o ano passado. Não é pelo trabalho nem pelo modelo, é pela (não) qualidade dos elementos citados para perceber o que é a exigência do jogar de Jorge Jesus. Mais, com Artur a revelar tantos problemas na comunicação e controlo da área, o Benfica jogando tão subido e com tantos metros nas costas arrisca-se a ter problemas face à sua improdutividade e pouca confiança também fora dos postes.


Anderson Talisca. Hoje como 6, algo que acredito sempre esteve na mente do treinador pelas condições atléticas e técnicas do jogador. Perdido, também, sem rotinas para o lugar, a demorar a compreender o que o jogo exigia, e claramente desaparecido. É um talento e se continuar a trabalhar pode crescer muito, mas o Benfica terá problemas a atacar jogos de exigência altos com ele neste ou no outro lugar do meio-campo.

Salvio. O Benfica vai ser diferente com o argentino. Certo é que Markovic é um super talento e um jogador claramente nível mais. Mas Salvio terá problemas para dar à equipa o que o sérvio se habituou a dar. Desde logo na transição defensiva e na forma como o sérvio equilibrava a equipa. E sobretudo a inexistência de capacidade do argentino para progredir para o corredor central e dar superioridades numéricas em progressão. O Benfica perderá aqui e sem 2 alas capazes de perceber e jogar como poucos pelo corredor central (Nico e Markovic) as dinâmicas colectivas serão naturalmente muito diferentes.

4x3x3. Tem de ser olhado por Jesus com outros olhos porque não tem neste momento jogadores para interpretar o seu modelo e jogar da forma como gosta. Sobretudo garantir uma capacidade e coesão defensiva em inferioridade top como existia o ano passado, e também qualidade no processo ofensivo com a inclusão de vários jogadores pelo corredor central. Essa deve ser a sua principal preocupação neste momento. Os melhores jogadores deste Benfica actual são os jogadores que conseguem ter bola e controlar o jogo pela posse. E sem um avançado de grande nível que consiga ligar sectores e jogar entre-linhas, Nico Gaitán não pode andar a jogar encostado ao corredor lateral muito mais tempo.

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