domingo, 10 de agosto de 2014

O risco envolvido na posse



Numa equipa que priorize o jogo na máxima largura, com posse, é fundamental ter jogadores capazes de interpretar os momentos, decidir bem, quase sempre sem risco de perda de bola garantido a manutenção da posse. É uma obsessão cada vez mais evidente da nova escola dos treinadores espanhóis este paradigma e esta atitude em campo.

Não é por acaso que vemos poucas situações de cruzamento, fruto da envolvência do jogo de posse pelo corredor central e do facto de serem situações que colocam os avançados em situação de inferioridade numérica e que tem uma taxa de sucesso, na maioria das vezes (dependendo da zona de onde é efectuado) baixa.


Olhando para o jogo do Benfica de Jorge Jesus, podemos perceber a importância que um jogador capaz de ter bola oferece à dinâmica da equipa. As situações de transição que tanto caracterizam o modelo de JJ não teriam a mesma qualidade se não houvesse um jogador como Enzo Pérez para transportar e ser agressivo na penetração pelo corredor central mas também, essencialmente, um jogador de passe, de tomada de decisão muito acima da média e que consegue fruto da posse manter a equipa equilibrada sem risco de perda e desequilíbrio associado.


Daí não ser possível compreender a não aposta no talento de Bernardo Silva, um jogador ainda com algumas fragilidades fruto da maturidade que ainda não atingiu devido às poucas experiências e estímulos mais elevados que o Benfica não lhe deu no seu processo de formação. Mas o talento com que joga, com que pensa e executa no jogo, como liga a equipa, como assume situações de desequilíbrio, iriam dar um jeitão a este Benfica, ainda para mais numa equipa que está a necessitar de um jogador com estas características como de pão para a boca.


E é na mesma linha que vamos falar de Quintero. O jogo do Porto, de envolvência, de posse e circulação, de segurança e adverso ao desequilíbrio com bola, tem de estar à volta do colombiano. Como dissemos no post anterior, seja no trio do meio-campo, seja a partir de uma ala, ele acabará por ir dar à zona central para decidir.


E Quintero é um dos jogadores de maior qualidade que há no futebol em Portugal porque consegue juntar acções simples e eficazes para a segurança da posse e a irreverência de assumir o jogo e partir para cima tendo invariavelmente sucesso na maioria das situações com que se depara.

Não é fácil encontrar jogadores que sejam um alicerce do treinador que pense o jogo pela posse mas que ao mesmo tempo conseguem criar situações de risco eminente mas ter sucesso em grande parte delas. Quintero e Bernardo Silva são dois jogadores dessa dimensão, que talvez não estejam a ser olhados da forma como o futebol português deveria olhar para eles.

Já aqui defendemos que o critério mais importante na avaliação de um jogador é o seu perfil/aptidão psicológica. E Quintero tem de ser top também aí. Pela forma como pega e assume o jogo das equipas onde joga, sempre à procura de soluções por muito difíceis que se tornem, e não tem problema em errar, só podem ser indícios que estamos perante um jogador de qualidade diferenciada.

6 comentários:

  1. Consegues encontrar explicação para o facto de Paulo Fonseca não ter apostado em Quinteto? E parece-te que Lopetegui o irá fazer? Não me parece e é isso que eu gostava de entender. E acredita que tudo o que pensas dele eu assino por baixo. Quintero tem tudo para ser um dos melhores do mundo.

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  2. 30,

    O problema do Quintero está nos outros momentos de jogo.

    E na cabecinha dele. No vedetismo que, tão novo, já tem.

    Mas pode ser que evolua.

    Cumprimentos

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  3. Gil,

    Não consigo compreender o porquê da não aposta do Paulo Fonseca nele. Podia ser um jogador decisivo naquele Porto, ainda para mais tão refém de criatividade na zona de decisão. Do que estou a ver da pré-época não sei se o Lopetegui vai dar-lhe a notoriedade que provavelmente mereceria, mas a época é longa e as coisas mudam rapidamente. Veremos.

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  4. António,

    Não conheço o Quintero pessoalmente e parece-me que questões de vedetismo são redutoras actualmente se tiver um treinador que consiga lidar com esse tipo de jogador - que não sei se é o caso dele.

    Quanto aos outros momentos do jogo, um jogador tão forte com bola, tem de jogar independentemente de até nem correr para trás. Cabe ao treinador encontrar soluções para isso dentro do seu modelo.

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  5. 30,

    Eu também não conheço, mas isso é verdade. Claro que depende do mister, mas com o PF foi assim. A ver com o Lopetegui.

    De qualquer dos modos, acabo por concordar contigo no resto, mas isso tem que ir evoluindo com o tempo...

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  6. Com a qualidade do Porto este ano, dizer que Quintero "tem de jogar" é ... Bom, enfim.

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