segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Uma questão de adaptabilidade


O futebol profissional comporta diferenças grandes em relação ao que acontecia no campeonato nacional de juniores. Ver as equipas B é ver isso mesmo. Nesta fase inicial, vê-se com expectativa alguns jogadores de quem se diziam maravilhas na formação, mas que por variadas razões estão a demorar a manter o mesmo nível de rendimento. O sentido oposto está bem presente, e a equipa B do Benfica que ontem jogou em Santa Maria da Feira tem dois jogadores de que importa falar.

Conheço o Ivan Cavaleiro desde os seus 13 anos quando jogava nos Iniciados do Benfica. O seu nível de rendimento era insuficiente, a margem que parecia apresentar também, e por isso acabou por ser dispensado. O Belenenses teve um papel importantíssimo no seu renascer, abrindo-lhe novamente as portas do Benfica, anos mais tarde.

Ivan Cavaleiro é um jogador com upgrade muito grande em relação ao que fazia nos Juniores. Fisicamente está mais forte, fruto disso aumenta a confiança de abordar os lances e partir para cima em iniciativas individuais. Drible, velocidade, explosão, simplicidade de processos. Vai crescendo neste Benfica B e as exibições que tem feito catapultaram-no para um dos melhores extremos da liga até ao momento. Joga em ambos os flancos com a mesma qualidade e está a conseguir aparecer muito bem em zonas de finalização.

Outro é Luciano Teixeira. Já Internacional A pela Guiné era um dos mal-amados da equipa de Juniores, porque era muito mau tecnicamente, dizia-se. A posição 6 na formação, sobretudo de um clube grande, é um lugar totalmente despreparado para aquilo que vai acontecer no futebol senior. Diria mesmo que é um futebol diferente. Isto porque uma equipa grande na formação detém um poderio muito grande em relação a todas as outras equipas. Essa diferença de qualidade faz com que os blocos defensivos e as zonas de pressão sejam, maioritariamente, em terrenos mais recuados, que ofereçam mais liberdade à 1ª fase de construção da equipa que em teoria vai assumir o jogo na sua posse e circulação.

Não é preciso ir muito longe para ver Zezinho, do Sporting. Na formação quando colocado como 6, como o faz até nesta própria equipa B do Sporting como pivot defensivo ao lado de João Mário, tem níveis de rendimento completamente diferentes. Nos Juniores podia receber, esperar, pensar, e executar. Essa dimensão não existe no futebol profissional e a pouca dinâmica e intensidade que apresenta deixam-no um nível abaixo daquilo que vai acontecendo nos leões com Chaby, Bruma, Esgaio e João Mário, por exemplo.

Luciano Teixeira tem tudo aquilo que é necessário um 6, de futebol senior, ter. E a competência que detém está a elevar, e muito, o seu status neste Benfica. Os níveis de agressividade têm de estar patentes, tem de lutar, ir lá acima disputar bolas, saber utilizar o corpo em situações de choque, encostar no seu opositor directo e não deixar rodar. Para além dessas situações, Luciano sabe preencher o seu espaço, sabe interpreta-lo e tem demonstrado imensa qualidade na forma como persegue o portador da bola e anulando-lhe a progressão consegue rouba-la e recupera-la para uma zona de posse.

O facto de não ser um portento a nível do passe, não tem de ser um impeditivo para limitar o seu jogo. É tudo uma questão de modelo da equipa, em função das características em que se insere. O Benfica joga com um meio-campo a 3, com 2 interiores. Luciano jogando na posição 6, na 1ª fase de construção, recua e faz uma linha a 3 com os centrais (que dão largura), dando imensas linhas de passe disponíveis para progressão com o aparecimento dos interiores a pedir jogo. Assim, mesmo nessa fase, está protegido pois tem de fazer passes de 5 metros para os lados ou para a frente em situações mais confortáveis de pressão, do que o 6 que tem de receber de costas para a baliza, rodar sob oposição e ter de entregar com qualidade. E ontem, dentro do seu meio-campo, fez um passe de 20 metros a rasgar a defesa do Feirense e a isolar João Mário.

Duas belas surpresas nesta equipa B do Benfica que ontem tem um resultado muito interessante na casa de um dos assumidos candidatos à subida de divisão.

1 comentário:

  1. Antes de mais quero dar-te os parabens pelo blog.
    Sigo-o ha já algum tempo e estava ansiosamente a espera que voltasses ao blog depois de uns tempo ausentes.

    Em relação ao topico, concordo plenamente com aquilo que está escrito e digo mais, as surpresas nao ficarão por aqui. Mas tambem haverá desilusoes, principalmente em alguns em que as expectativas sao elevadas (algo parecido com o que aconteceu com o A. Carvalhas)

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