terça-feira, 28 de agosto de 2012

Gémeos na classe, distintos nas acções


É fácil vir elogiar o Braga. Torna-se cliché dizer que os comandados de José Peseiro, ao criarem uma das histórias mais gloriosas das suas jornadas europeias, se encontram neste momento a um nível muito alto. E a verdade é que isso acontece e foi hoje evidente em Udine. Importa olhar com atenção para aquilo que foi a inteligência do treinador ao gerir os recursos.

Chegou a um clube com uma ideia de jogo pré-concebida e um modelo que procurou implementar. Diferente, em quase tudo, das ideias gerais que jogadores influentes do grupo tinham há vários anos enraizados ao serviço dos bracarenses. A pré-época não foi muito conseguida e existiu alguma demora a assimilar processos.

Hoje, vemos um Braga a desdobrar-se em organização ofensiva naquilo que é o seu sistema de há anos, mas compacto, com princípios de jogo interior, de mobilidade e rupturas pelo corredor central, de ênfase dos apoios exteriores a surgirem pelos laterais, ou seja, assistimos a uma mistura, se quisermos, das ideias existentes, às ideias que Peseiro vai procurando impor.

A verdade é que o treinador natural de Coruche colecciona bons trabalhos por quase todos os sítios onde passou. A inteligência e abordagem, a sensibilidade que parece demonstrar, vão voltar a fazer deste Braga uma das surpresas maiores do campeonato.

Mas este texto é para falar dos dois cérebros do jogo dos bracarenses. Não vou falar de Custódio que pela sua capacidade posicional, inteligência e percepção dos momentos e simplicidade de processos, é o melhor 6 para jogar na selecção portuguesa. Vou falar de Hugo Viana e Mossoró.

O português é um autêntico craque para uma equipa da dimensão do Braga. Custa entender como muitas vezes é desvalorizado. A forma como gere todo o processo de construção dos bracarenses, como assume as suas fases, os seus ritmos, as suas decisões, mas acima de tudo, a qualidade com que o faz, é de um jogador de outro andamento. Andamento esse que não tem a nível de intensidade. Mas para que o precisa? Pensa e executa rápido. Quase sempre bem, com uma eficácia tremenda. Lê e cria espaços em zonas que procura para receber e poder optar. Viana, em final de contrato, pode assinar o contrato da sua vida na próxima época.

E Mossoró, claro. Um Braga que vive da mobilidade e ruptura dos seus elementos, com e sem bola, pelo corredor central. Também pelas penetrações à procura de apoios frontais. Cabe em qualquer lugar deste sistema pela qualidade que tem. Se quando tem bola e procura o apoio, ou procura a progressão, e não há solução, arrisca, desequilibra, explora espaços difíceis de penetrar, mas sai vivo deles. É outro jogador a fazer anos de muita qualidade ao serviço do Braga, e que também aos 29 anos - como Viana - promete dar o rendimento total a um grupo que pela forma impressionante como está a fazer a recuperação após a perca de bola e fecha as opções para o adversário iniciar uma transição ofensiva, promete, neste nosso campeonato, uma época de alto nível, como as outras que tem realizado.

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