sexta-feira, 13 de setembro de 2013

A componente estratégica e o modelo de jogo


João de Deus será, em perspectiva, uma das melhores surpresas da Liga deste ano. Para quem não o conhecia, até pode surpreender o trajecto que o Gil vem fazendo. Para quem teve oportunidade de privar com ele, ficam os elogios e a forma como nos faz pensar sobre muitas das questões relacionadas com o jogo. Acima de tudo porque as principais respostas vêm com os resultados e ele alcança-os.

Ontem Vítor Pereira faz uma declaração curiosa: "Benfica paga caro alteração do ADN quando defronta o FC Porto". Hoje, João de Deus, em antevisão à partida no Porto, diz o seguinte: "Temos de ser fiéis às nossas ideias, temos de ter confiança que temos capacidade para ser competentes e discutir o resultado, seja qual for o adversário".

Este tem sido um dos grandes trunfos de João de Deus ao longo da carreira. Em quase todos os clubes por onde passou, tem tido a felicidade de conforme o planeamento da época, conseguir encontrar e ter espaço de manobra para procurar os jogadores que se adequam ao seu modelo. Foi assim no Atlético, acabou por acontecer também na Oliveirense e agora no Gil Vicente.

João de Deus é metódico, tem um modelo de jogo muito definido e um modelo de treino muito direccionado para as suas ideias. É muito forte neste sentido e acaba por ter algumas questões que nos fazem pensar sobre a perspectiva mais "bonita" que aprendemos a olhar para aquilo que se faz nos clubes de topo. Quem assistir a determinados exercícios estratégicos do treino, vemos bastantes condicionantes. Pode ser criticável mas é extremamente direccionado para o objectivo e sobretudo prático para assimilar ideias e comportamentos.

E não é por acaso que as suas equipas jogam praticamente todas da mesma maneira. Não igual, porque são os jogadores que dão as dinâmicas ao colectivo, mas os princípios estão lá: bloco médio/baixo, linhas próximas, retirar largura ao jogo do adversário e apostar na profundidade do seu próprio jogo em saídas rápidas mas num futebol apoiado e com combinações colectivas muito interessantes, sobretudo através de jogo exterior (laterais, interiores e extremos).

Isto para referir que é fundamental não existir desvios àquilo que é a identidade e as ideias de um colectivo, seja qual for o adversário. Trabalhar uma componente estratégica com o objectivo de limitar ou anular determinados pontos do adversário, acabará por nos levar a comportamentos não habituais no nosso jogo e que nos levará a ter pouca eficácia no momento em que conseguimos (fruto da repetição e da estratégia) anular algum ponto forte. É um jogo incompleto e sem sequência.

É possível definir certo tipo de comportamentos que alterem um modelo de jogo, mas sem o radicalizar. Baixar zonas de pressão, ou subi-las, ou introduzir um determinado comportamento táctico ou combinação entre 1 ou 2 jogadores. Fácil de assimilar. Não se pode mudar a ideia e a base da equipa em termos posicionais, de movimentações e combinações colectivas com e sem bola.

É isso que o Benfica tem feito em quase todos os jogos que exigem mais à equipa e ao próprio treinador. Se temos confiança total no nosso modelo e nas nossas ideias não o podemos radicalizar seja qual for o adversário. Jorge Jesus tem insistido nestas mudanças de forma constante sempre que defronta o Porto. Apenas por uma vez lhe correu bem, num jogo em que ganha por 2-0 no Dragão e que teve a inclusão de César Peixoto como Interior. Um caso em muitos outros. Não pode ser suficiente.

O Gil Vicente vai ao Dragão jogar dentro das suas próprias ideias. Forte e coesos defensivamente, mesmo sem os 2 centrais titulares, mas uma equipa solidária, unida e muito focalizada no objectivo. Será interessante ver a forma como se comportarão os gilistas neste grande desafio. E veremos dois dos melhores treinadores portugueses da actualidade em confronto. Para analisar aqui, posteriormente.

6 comentários:

  1. Olá 30,

    Gostei do artigo!

    "Quem assistir a determinados exercícios estratégicos do treino, vemos bastantes condicionantes. Pode ser criticável mas é extremamente direccionado para o objectivo e sobretudo prático para assimilar ideias e comportamentos"

    Fiquei curioso, podes dar um exemplo?

    "É isso que o Benfica tem feito em quase todos os jogos que exigem mais à equipa e ao próprio treinador. Se temos confiança total no nosso modelo e nas nossas ideias não o podemos radicalizar seja qual for o adversário."

    Acho que mesmo mantendo o modelo de jogo, JJ iria perder contra o FCP. O modelo do Porto é muito mais evoluido que o do Benfica e a qualidade individual é semelhante. Mas concordo que mudando, a probabilidade de vencer diminui.

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  2. Eu sabia que estávamos a falar sobre o mesmo treinador, no meu blogue, da outra vez. O miúdo, central que falava, é jogador do Gil Vicente ;)

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  3. Gonçalo Matos,

    Dou um exemplo de um exercício de finalização mas que tem como principal objectivo trabalhar combinações tácticas colectivas. Assisti a determinadas situações em que era definido consoante a zona da bola, para onde devia sair o cruzamento e onde o jogador na área devia atacar a mesma. Sistematização pura. A nível Senior não consigo criticar.

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  4. Baggio,

    Pensei que não tinhas percebido porque o João estava a ser muito elogiado na altura. Já agora, que opinião tens dele?

    Em relação ao central, falas do Califa?

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  5. se o benfica adoptasse um modelo de posse de bola com qualidade era uma equipa brutal , com markovic , djuricic na mesma equipa , mas com jj não vai ser possivel

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  6. Não, é junior ainda.

    Sobre Deus, tenho a opinião que leste lá no blogue. Vi treinos dele, e não gostei. Mas, atenção, o facto de eu não gostar não implica que não sejam bons.
    Sobre o Atlético dele, foi das equipas mais fracas que vi jogar.

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