sexta-feira, 25 de abril de 2014

Duelo táctico na Luz: Padrão vs Adaptação



Assistimos hoje na Luz a um jogo soberbo a nível táctico entre duas equipas tremendas. Sobretudo a um jogo de enorme exigência para ambos os conjuntos e seus treinadores de forma a procurar maior equilíbrio e maior controlo do espaço. Sistemas em tudo diferentes e que colocavam a nu as principais debilidades colectivas de cada um dos conjuntos sempre que havia sucesso no momento em que as equipas chegavam à zona de decisão. Arrisco dizer que se tivesse existido maior qualidade individual em alguns momentos o jogo de hoje teria ficado com 5 ou 6 golos no placar.

Juventus, a padronização

A Juve é uma equipa totalmente padronizada no seu momento ofensivo. À primeira vista poderia permitir uma maior facilidade ao adversário em encaixar nessas combinações tácticas mas a dificuldade é tanta que seria necessário mudar de tal forma que permitiria aos italianos terem sucesso noutra das opções que poderiam assumir na zona de construção.

Abordaram o jogo com um momento ofensivo muito organizado, sobretudo, em duas combinações padronizadas. Jogando com três defesas pelo corredor central, garantido equilíbrio posicional, e duas referências de largura pelo corredor lateral (Lichtsteiner e Asamoah), a definição era sempre pelos três médios. Normalmente Pirlo e Marchisio a esticar jogo no outro médio, Pogba.

Para isso a referência de largura de um dos corredores abria no máximo procurando arrastar consigo o defesa lateral do lado contrário à bola. Esse espaço deixado entre o central/lateral era atacado pelo médio interior, quase sempre Pogba, que ao receber procurava uma combinação directa com um dos avançados de forma a conseguir uma situação de 2x1.


Benfica, a adaptação

Jesus correu o risco e teve sucesso. Não abdicou da sua identidade nem virou a cara à filosofia da equipa. Pressionou alto e deu-se bem. Podia ter garantido equilíbrio espacial não pressionando 3x3 na 1ª fase de construção dos italianos. Mas fê-lo. Para isso adaptou André Gomes, que passou a acompanhar sempre os movimentos de ruptura dos interiores (quase sempre Pogba). Recuou Enzo para esse lugar e baixou também Rodrigo fechando a linha para rodar rápido por fora - que normalmente Pirlo oferecia.


A Juve tornou-se mais pragmática e mais fácil de controlar pelo corredor mais perigoso: o central. Quase não construiu momentos de perigo através desse tipo de combinações onde é mais forte que os adversários e potencia o seu futebol.

Juventus, a re-adaptação ao Padrão

Podemos até chamar plano B. Não estava fácil entrar da forma padrão, foram pela segunda via: explorar a referência de largura do lado contrário que era deixado sem marcação. Foi por isso muito evidente, sobretudo na 2ª parte, situações de superioridade numérica pelo corredor lateral em que o jogador que dava maior largura recebia só e tinha espaço para progredir e cruzar.

O Benfica confiou na capacidade de antecipação dos centrais e teve de sofrer mas evitava situações de penetração pelo corredor central onde os seus centrais fizeram também um grande jogo. Foi um jogo muito exigente a nível defensivo para os laterais do Benfica que foram gigantes também na forma como apoiaram a equipa em termos ofensivos.

Não tivesse existido o erro de Markovic a esquecer-se de fechar o espaço interior e a evitar que a Juventus entrasse por dentro, hoje os italianos teriam criado ocasiões de golo (por imensa qualidade colectiva e individual), mas dificilmente seria um resultado tão curto para o Benfica como se tornou este.

Foi um prazer assistir a tudo isto no Estádio da Luz.


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