quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Os mesmos princípios em diferentes modelos


Ando há algum tempo a procurar ver jogar Arsenal e Barcelona. É sempre objecto de estudo para qualquer pessoa interessada em observar e estudar o jogo. Para além de dois dos melhores treinadores do Mundo, acredito que a diferença é que um já conseguiu encontrar forma de equilibrar a sua equipa defensivamente, também pela maior qualidade de que dispõe. O outro, propriamente, ainda não.

É que ver Barcelona e Arsenal é ver duas equipas com princípios bem definidos. Um retrato real do futebol simples e bem jogado. Demasiado fácil até, diria. Movimentos quase sempre rotinados, posições de mobilidade definidas, desequilíbrios individuais sempre criados pelo individual na forma como pensa e executa rápido.

Contudo, ambos jogam da mesma forma, com sentidos e objectivos distintos no seu modelo. Ver o Barcelona é observar uma equipa em posse e circulação, de certa forma mais lenta e pensada na fase de transição e construção, mas que acelera, e de que forma, na zona de decisão, em movimentos entre-linhas e de ruptura sem bola dos seus elementos da frente, onde se junta, invariavelmente, um quarto elemento, de nome Iniesta, quando um dos defesas laterais faz penetração no corredor central com bola.

O Barcelona define o corredor lateral como o seu meio preferencial para atingir o golo, através do toque curto e da capacidade de colocar no centro de jogo, quase sempre superioridade numérica em relação ao seu adversário. Não em termos do número, mas da forma como ganham metros e crescem no campo pela dinâmica e intensidade na zona de decisão dos seus mais fantásticos artistas.

O Arsenal difere aqui. O corredor lateral funciona apenas como uma extensão do seu predilecto corredor central. Quase como definindo os corredores laterais como zonas desocupadas onde só entram os "jokers" para fazerem posse de bola. O Arsenal, ao contrário do Barcelona em largura, fazendo "campo grande", joga de forma mais estruturada no corredor central, oferecendo-lhe muita profundidade e num jogo então semelhante ao Barcelona mas com penetração e progressão, invariavelmente, pelo corredor central. O que talvez lhe dê, também, pior capacidade defensiva pois a equipa pouco tempo tem para fazer a recuperação e se equilibrar defensivamente.

Como os mesmos princípios e os mesmos métodos (ataque rápido e ataque posicional), podem ter vivências diferentes dentro dos corredores e sectores de um campo de futebol. O Arsenal joga a todo o gás na zona de construção e decisão, espaçando e pensando mais a sua zona de transição. Algo que daria horas e horas para estudar...

Jorge Jesus de cachecol não é o mesmo


É um Benfica ainda à procura da sua identidade. Não única e exclusivamente pela derrota de hoje, mas também. Independentemente da boa exibição na Madeira e do crescendo motivacional, em grande parte verificado pela vitória frente ao velho rival na semana anterior. O problema está na forma como esta época foi e continua a revelar-se mal preparada.

Como o Benfica procura encontrar um esquema de jogo alternativo para anular, de certa forma, a inexistência de duas peças fundamentais para o seu modelo no esquema anterior (ou actual), a potenciação de Coentrão num lugar onde se revelou realmente muito forte - e como extremo continuo a dizer que também o é -, mas o avançar e recuo de ideias face a esse plano de jogo. É que Coentrão joga onde o Mister quiser, é verdade. Mas o Benfica procura agora disfarçar e atenuar a saída de Dí Maria e encontrar alguém que faça as suas funções. Impossível, digo eu.

Até porque jogar uma Champions debilitando um corredor lateral em constante pedido de auxílio, fazendo Coentrão imensos movimentos de apoio ao defesa esquerdo, pois ter Farfán ou Rakitic em constantes situações de um para um com Peixoto anula qualquer possibilidade de exploração desse flanco em superioridade numérica em transição ofensiva, pois qualquer dos jogadores que abandone o corredor central para intervir no centro de jogo (com bola no corredor), oferece à outra equipa possibilidades várias de desequilibrar no contra golpe.

Está visto que Cardozo não tem perfil para este tipo de jogos. E até pode fazer 3 ou 4 golos no próximo jogo europeu. Mas continuo a dizer que no contexto europeu em que o Benfica tem de ter entre 75 a 85% dos seus lances nos momentos de transição ofensiva e organização defensiva, Cardozo torna-se pouco útil pela forma como raramente oferece possibilidade de desequilíbrio no primeiro toque, e na forma pouco capaz com que dificulta o trabalho dos defesas contrários e essencialmente os obriga a recuar no terreno pelos seus movimentos de ruptura que permitam à equipa ganhar metros e encurtar linhas para não ter os sectores tão distantes como hoje se verificou.

Os grandes também erram e no futebol quem não ganha torna-se alvo fácil da crítica.