quarta-feira, 28 de abril de 2010

O livro Mourinho


É certo que o pré-sucesso do Inter de Milão nesta temporada se deve a um nome: Wesley Sneijder. Também é uma realidade que Eto'o tem feito esquecer Zlatan Ibrahimovic, ou que Lúcio deu uma segurança e liderança defensiva que não existia. Mas hoje, e também na primeira mão, há um nome incontornável a vencer o jogo do Nou Camp: Claro, o special one!

Todos erram. Mas ele, acerta muito mais vezes do que os outros. A forma como abordou a estratégia para os dois encontros e, essencialmente, as noções de espaço e de leitura dos variados momentos do jogo que enfrentaram e a adaptação simples e lógica a todos esses factores, fazem-me pensar de que forma Mourinho fez a antevisão destes dois jogos: Terá treinado todas as condicionantes possíveis e imaginárias que poderiam acontecer neste jogo?

Tal como referiu, e tocou num ponto fundamental, estes jogadores estão, a um nível de idade, no auge dos seus momentos áureos no futebol. Mourinho tem uma equipa adulta, rotinada, coesa, muito inteligente, capaz de compreender os delírios - fantásticos - do seu maestro. Mourinho fez do Inter, uma equipa desapaixonada pelo jogo e sem a criatividade dos fantasistas, um grupo metódico, tremendamente eficaz, e com as peças que ele encontrou para compor o seu puzzle. Milito, Eto'o, Lúcio, Sneijder, são os exemplos mais crassos. Está longe Mourinho de ter os fantasistas da bola, mas muito perto de atingir o expoente máximo dos fantasistas do futebol. E são coisas diferentes. Estes últimos, os instintivamente magos dos espaços, das movimentações, dos momentos, das vivências, das rotinas, dos processos... Uma equipa desenhada por Mourinho.

E como dizia Jesus, enquanto o futebol não for um desporto de nota artística, será totalmente plausível que Eto'o volte a fechar como lateral esquerdo a funcionar como primeiro elemento de transição ofensiva (que raramente existiu), ou Zanetti e Cambiasso a fazer de tampões única e exclusivamente das triângulações ofensivas dos catalães. Mourinho, a jogar com 10, fechou um bloco de 5-3-1, a desdobrar-se num 4-4-1, que em organização defensiva mais se assemelhava a um 6-2-1. Foi, do ponto de vista táctico, estratégico e organizacional, um dos melhores jogos que me lembro de ter assistido no futebol. Tudo bem que fez um remate ao longo do jogo e teve 26% de posse de bola.

Quando o árbitro apitou, correu fulgurante, festejou exuberantemente, abraçou os seus heróis, que também o acham a si um dos seus... e ele foi esse, o do jogo feio, do autocarro, da retranca... eu chamo-lhe mestria: José Mourinho, abriu o livro! E fechou-o, imediatamente, para o Bernabéu.

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