sábado, 30 de agosto de 2014

Falando de Samaris



O derby de amanhã vai trazer muitos aliciantes e um dos principais é a possível estreia do grego Samaris com a camisola do Benfica. Teoricamente um desconhecido para o público português, vamos tentar perspetivar o que vale, onde encaixa e o que pensar sobre ele.

A expectativa é grande, até pelos 10 milhões de € pagos para garantir o seu concurso, após uma época ao serviço do Olympiacos. E importa analisar o contexto: o campeonato grego é nivelado por baixo, sendo o Olympiacos de um nível muito superior ao dos seus adversários. Os 17 pontos de avanço para o 2º classificado assim o revelam, e por isso é importante perceber em que situação se inseria Samaris.

Numa equipa de muita propensão ofensiva, com bastante volume atacante e num modelo que prioriza a posse de bola e o jogo apoiado, jogava normalmente numa das posições de médio interior (tanto à direita como à esquerda). É um jogador com porte atlético (1,89cm), muito disponível fisicamente, rápido sobre a bola, agressivo no desarme, bom recuperador, mas com argumentos a nível técnico na recepção e especialmente no passe curto, médio e longo.

Sabe jogar simples a um/dois toques, sendo bastante prático de processos, mas gosta por vezes de adornar e dar um toque de classe na forma como sai a jogar. Pela robustez física e capacidade de protecção de bola, pode ser utilizado na posição 6 (onde acreditamos que se vá fixar no Benfica) porque apesar de gostar de subir e ser usual aparecer em zonas mais adiantadas, não é forte na penetração e no drible em progressão, característica importante para a posição 8 do modelo de Jorge Jesus.

Contudo, a passada que tem, capacidade de preenchimento do espaço, qualidade táctica e desarme, aliando à forma como sabe jogar de costas e também decidir de frente para o jogo, utilizando a excelente capacidade de passe que detém, pode fixar-se de caras no onze da equipa e tornar-se uma figura importante da estrutura do Benfica.

Importa contudo analisar que a pressão adversária existente na sua zona de acção no tempo que passou no Olympiacos era praticamente nula fruto das equipas baixarem normalmente o bloco quando jogavam contra o campeão grego, pelo que não é ainda possível perceber ao nível da tomada de decisão e execução sob pressão de que forma se pode comportar, daí fazer sentido enquadrá-lo sobretudo para o lugar 6 do Benfica onde teoricamente teria um maior transfer daquilo que foi habituado a fazer não só no Olympiacos como também no Panionios.

Samaris é ainda um excelente executante de bolas paradas, tendo uma meia distância de qualidade, gostando de tentar visar, sempre que com espaço, a baliza contrária, com ambos os pés. O Benfica ganha aqui também um jogador muito importante na cobrança de bolas paradas e na meia distância, embora pela sua estatura possa ser utilizado dentro da área para finalizar este tipo de situações.

sábado, 16 de agosto de 2014

Prospecção: Bernard Mensah


Recrutado ao Feyenoord do Gana, muita atenção a este jovem que desponta na equipa principal do Vitória de Guimarães. Joga pelo corredor central como 10 mas pode também jogar mais atrás. Grande capacidade física, tem passada larga e boa capacidade técnica. Gosta de ter bola e partir para cima, é agressivo a penetrar e a tentar situações de 1x1. Jogador para continuar a seguir.

domingo, 10 de agosto de 2014

O risco envolvido na posse



Numa equipa que priorize o jogo na máxima largura, com posse, é fundamental ter jogadores capazes de interpretar os momentos, decidir bem, quase sempre sem risco de perda de bola garantido a manutenção da posse. É uma obsessão cada vez mais evidente da nova escola dos treinadores espanhóis este paradigma e esta atitude em campo.

Não é por acaso que vemos poucas situações de cruzamento, fruto da envolvência do jogo de posse pelo corredor central e do facto de serem situações que colocam os avançados em situação de inferioridade numérica e que tem uma taxa de sucesso, na maioria das vezes (dependendo da zona de onde é efectuado) baixa.


Olhando para o jogo do Benfica de Jorge Jesus, podemos perceber a importância que um jogador capaz de ter bola oferece à dinâmica da equipa. As situações de transição que tanto caracterizam o modelo de JJ não teriam a mesma qualidade se não houvesse um jogador como Enzo Pérez para transportar e ser agressivo na penetração pelo corredor central mas também, essencialmente, um jogador de passe, de tomada de decisão muito acima da média e que consegue fruto da posse manter a equipa equilibrada sem risco de perda e desequilíbrio associado.


Daí não ser possível compreender a não aposta no talento de Bernardo Silva, um jogador ainda com algumas fragilidades fruto da maturidade que ainda não atingiu devido às poucas experiências e estímulos mais elevados que o Benfica não lhe deu no seu processo de formação. Mas o talento com que joga, com que pensa e executa no jogo, como liga a equipa, como assume situações de desequilíbrio, iriam dar um jeitão a este Benfica, ainda para mais numa equipa que está a necessitar de um jogador com estas características como de pão para a boca.


E é na mesma linha que vamos falar de Quintero. O jogo do Porto, de envolvência, de posse e circulação, de segurança e adverso ao desequilíbrio com bola, tem de estar à volta do colombiano. Como dissemos no post anterior, seja no trio do meio-campo, seja a partir de uma ala, ele acabará por ir dar à zona central para decidir.


E Quintero é um dos jogadores de maior qualidade que há no futebol em Portugal porque consegue juntar acções simples e eficazes para a segurança da posse e a irreverência de assumir o jogo e partir para cima tendo invariavelmente sucesso na maioria das situações com que se depara.

Não é fácil encontrar jogadores que sejam um alicerce do treinador que pense o jogo pela posse mas que ao mesmo tempo conseguem criar situações de risco eminente mas ter sucesso em grande parte delas. Quintero e Bernardo Silva são dois jogadores dessa dimensão, que talvez não estejam a ser olhados da forma como o futebol português deveria olhar para eles.

Já aqui defendemos que o critério mais importante na avaliação de um jogador é o seu perfil/aptidão psicológica. E Quintero tem de ser top também aí. Pela forma como pega e assume o jogo das equipas onde joga, sempre à procura de soluções por muito difíceis que se tornem, e não tem problema em errar, só podem ser indícios que estamos perante um jogador de qualidade diferenciada.

sábado, 9 de agosto de 2014

WBA x Porto



- Notas muito positivas dos azuis e brancos. Equipa joga muito alto, com sectores muito próximos e bastantes coberturas para manter a posse. Largura dada quase sempre pelos laterais e/ou Tello, com bastante mobilidade pelo corredor central de Brahimi muito agressivo a penetrar o corredor central.

- Equipa bastante agressiva após perda, equilibrados e sempre à procura de retirar tempo à decisão do oponente. Herrera forte na transição defensiva pela capacidade de ocupar o espaço, mas mais lento que os companheiros de sector na tomada decisão em posse.

- Danilo e Alex Sandro neste modelo têm tudo para fazer um ano grande no Porto. A equipa joga de forma paciente para explorar combinações tácticas explorando a sua largura e o movimento interior dos alas abrindo-lhes o corredor.

- Brahimi é um craque. Muito forte com bola, excelente na tomada de decisão, criativo e com capacidade no 1x1. Vai ser difícil não ser figura neste Porto.

- Tello apesar de não sermos fãs pela fraca tomada de decisão e partir invariavelmente para situações de 1x1 e finalização quando tem melhores opções, pode ser importante neste Porto se crescer também mentalmente e em termos de maturidade do seu jogo. Mudança de velocidade que pode desbloquear muitos problemas.

- Jackson muito incorporado no momento de organização ofensiva, nunca estático e sempre à procura de bola para jogar de frente - na senda dos modelos espanhóis de não haver avançado posicional nesse momento do jogo.

- Quaresma vai ser sempre um jogador diferente deste modelo de Lopetegui. Menos combinações colectivas, menos integração nos lances ofensivos, menos situações de manutenção da passe, mais passes de risco, mais situações individuais...mas é isto: qualidade de improvisação e de execução como ninguém. O Porto vai ter mais situações de perda de bola com ele, mas também pode ganhar se contar com a sua inspiração.

- Quintero é um jogador de uma qualidade absurda. Tomada de decisão, execução, a forma como pensa e interpreta o jogo, a qualidade de tudo o que faz... a equipa tem de jogar muito daquilo que pode oferecer o colombiano. Seja como ponto de partida na ala ou pelo corredor central - ele acaba por ir lá dar de qualquer das formas.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

O antagónico Mourinho


Já aqui foi muito discutido sobre as visões actuais existentes sobre o jogo e sobre as (in)coerências de algumas ideias vigentes actualmente pela nova geração de treinadores que procura impor a sua competência nas equipas, juntamente com as ideias já assimiladas e experimentadas de treinadores com traquejo e resultados comprovados no nosso futebol.


De que forma pode ser alvo de análise estes pontos referidos como traços da ideia de José Mourinho? Até que ponto não será esta também uma forma lúcida e concreta de se analisar o jogo e de que forma devem as equipas gerir os seus momentos? Em que contextos podem ser estas bases praticadas?

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Prospecção: Lucas Andersen



O Ajax recrutou com 17 anos na Dinamarca um jogador que denotou um crescimento muito interessante nos últimos dois anos. Lucas Andersen andou pela equipa de reservas dos holandeses no ano transacto mas promete este ano dar-se a conhecer definitivamente na alta roda do futebol europeu. Jogador claramente diferenciado que vai enfrentar forte concorrência mas que promete assustar os mais velhos. Destro, embora com facilidade de jogar com o pé não dominante, é muito elegante nas suas acções.


Joga pelo corredor central ou encostado numa faixa. Tem passada larga, é forte em progressão, gosta de ir para cima, é e culto posicionalmente, tem um drible curto muito fácil e procura sempre a melhor solução para jogar. Denota grande inteligência em campo, é eficaz na tomada de decisão e tem um vasto recurso de argumentos para jogar. Tem facilidade de aparecer em zonas de finalização. Um jogador de equipa com grande qualidade técnica. Muita atenção.


Nacionalidade: Dinamarca
Data de Nascimento: 19-09-1994 (19 anos)
Altura/Peso: 185 cm / 72 kg
Posição: Médio Ofensivo
Clube: Ajax

Como sabe bem ver João Mário



O Sporting está quase a terminar a sua pré-temporada e apesar dos sinais serem positivos, há ainda algumas coisas a melhorar. Sobretudo a forma como a equipa vai passar a articular um meio-campo diferente, até pela entrada imediata de William nas contas. Mas em qualquer onze que se faça da equipa de Marco Silva tem de estar João Mário. O jogo de ontem no Egipto é só mais uma demonstração cabal daquilo que pode acrescentar à equipa. Destaco-o como o melhor jogador sub-21 português e dentro de campo mostra porquê. Tecnicamente é uma coisa absurda, a forma como pensa o jogo também o é. O Sporting ganha com André Martins alguma irreverência na terceira fase, mas com João Mário ganha uma criatividade e controlo da posse que mais nenhum jogador da equipa consegue oferecer.

domingo, 3 de agosto de 2014

As referências de Benito



Loris Benito chegou ao Benfica praticamente como um desconhecido. Ainda há algumas dúvidas relativamente ao seu valor mas a nossa opinião está formada. Não é questão dos restantes companheiros do sector defensivo não ajudarem. Há casos de fracasso colectivo. E há outros de completo desajuste individual face às exigências. O lance do 5-0 de Sanogo ontem é um exemplo disso.

A principal preocupação de um jogador de futebol tem de ser a bola. É a base de todos os princípios do jogo. Um jogador que está neste contexto não pode ter um desconhecimento tão grande sobre o jogo como o suiço demonstra. Senão vejamos:



Passe longo para a sua zona de acção e Benito esquece a bola. Deixa de olhar para ela, não a ataca, sequer. Procura posicionar-se. A recepção de Campbell a antecipar-se deixou-o aos papéis e fora de qualquer chance para jogar. Estando em superioridade numérica, devia fechar o espaço e posicionar-se de forma a dificultar a decisão do jogador do Arsenal. O que faz? Sai ao portador desprotegendo as costas, originando uma situação de finalização para os ingleses. Quais são as referências dele, afinal?



Atentem na forma como posiciona os apoios e sai na bola. É um grande lance de Cazorla, mas é também demasiado infantil a forma como Benito aborda o espanhol e procura fazer não se sabe bem o quê. Lembrar que este lance terminou com um remate ao poste.

O suiço pode até ter disfarçado nos primeiros jogos ser um jogador aparentemente competente, por ter alguma velocidade, e ser forte a nível físico. Mas um jogador com uma escassez tão grande de argumentos a nível ofensivo e com tantos problemas nas abordagens defensivas (algumas a roçar o distrital, como esta) não auguram nada de positivo para a sua carreira em Portugal.

E agora Lopetegui?



É indiscutível que o FC Porto está a construir o melhor plantel em Portugal. Com a qualidade dos nomes e as opções à disposição, provavelmente um dos melhores dos últimos anos do nosso futebol, apenas de possível comparação ao do Benfica 09/10 e 13/14 e ao FC Porto de André Villas Boas. Tal é a qualidade e a imensidão de opções para o treinador.

A questão está na ideia de jogo e na sua forma de gerir recursos. É fácil trabalhar com tanta qualidade mas é difícil gerir tantos egos. E um deles é Quaresma. Não é possível ficar indiferente ao seu talento, mas é também notório que os seus melhores anos já passaram e se tornou um jogador descontextualizado da exigência actual do futebol de alta roda pelas fracas decisões que toma e dificuldade em se inserir num jogo colectivo que naturalmente terá de ser este.

O Porto faz hoje um jogo de qualidade, sobretudo na 2ª parte, no terreno do Everton, e quando não esteve Quaresma. O exemplo do golo é o ADN que pretende o técnico espanhol de futebol controlado pela posse com opções várias para jogar próximo do centro de jogo e em constante mobilidade. Sempre com opções.



E com a qualidade ofensiva destes laterais tudo se torna mais fácil. É difícil nesta altura perspectivar um onze azul e branco, mas estes nomes têm de ser peças fundamentais na manobra da equipa: Danilo, Alex Sandro, Herrera, Brahimi, Quintero, Oliver, Adrián e Jackson. Com tanta qualidade individual, o Porto parte claramente muito à frente dos outros rivais.

sábado, 2 de agosto de 2014

Emirates Cup day 1



Não se pode dissociar as fases do jogo nem os seus momentos uns dos outros, mas a verdade é que este Benfica parece quase uma equipa de duas caras e de dois níveis distintos. Mas tudo é fácil perceber e de ser explicado pelo nível individual dos jogadores dos diferentes sectores da equipa.


Tinha sido possível observar dificuldades do Benfica no processo ofensivo e na inexistência de mobilidade e dinâmicas que permitissem jogo entre-linhas e combinações directas em progressão como as equipas de Jesus sempre nos habituaram. Hoje foi possível ver melhorias nesse aspecto e graças à inclusão de Gaitán sempre pelo corredor central, algo que já aqui vem sendo dito desde o primeiro dia de pré-época. É realmente o jogador mais forte da equipa no corredor central na penetração e agressividade com bola e qualidade de critério e decisão.

Com as rotinas já criadas e pelos lances que foi inventando com Lima e Salvio, que mesmo ainda a níveis baixos de produtividade face ao que já mostraram em outra altura, foi possível ver um Benfica mais ligado entre sectores na fase ofensiva e a permitir alguns lances interessantes. Mesmo gostando de Ola John, não agarrando estas oportunidades, fica difícil para ele. Quase sempre a decidir mal (coisa que não é normal) e a ter problemas em combinar com os colegas.


Mas o que explica os números e o baixíssimo grau colectivo da equipa no dia de hoje é o processo defensivo. Não é normal em Jesus, mas explica-se pelos nomes. Artur, Maxi, Sidnei, César e Eliseu. São 4 elementos novos, mais Maxi que nem sempre jogou o ano passado. Sidnei e César não controlam o espaço e não conseguem ter referências espaciais para jogar, abrindo constantemente espaços e tendo problemas na reacção aos maus posicionamentos que ocupam. O próprio Eliseu, que revela qualidade com bola, tem problemas graves a nível defensivo, coisa que já se sabia, mas que é possível melhorar com Jesus.

Basicamente este quarteto nunca se encontrou nem consegue jogar de forma coesa e concentrada, algo que existia o ano passado. Não é pelo trabalho nem pelo modelo, é pela (não) qualidade dos elementos citados para perceber o que é a exigência do jogar de Jorge Jesus. Mais, com Artur a revelar tantos problemas na comunicação e controlo da área, o Benfica jogando tão subido e com tantos metros nas costas arrisca-se a ter problemas face à sua improdutividade e pouca confiança também fora dos postes.


Anderson Talisca. Hoje como 6, algo que acredito sempre esteve na mente do treinador pelas condições atléticas e técnicas do jogador. Perdido, também, sem rotinas para o lugar, a demorar a compreender o que o jogo exigia, e claramente desaparecido. É um talento e se continuar a trabalhar pode crescer muito, mas o Benfica terá problemas a atacar jogos de exigência altos com ele neste ou no outro lugar do meio-campo.

Salvio. O Benfica vai ser diferente com o argentino. Certo é que Markovic é um super talento e um jogador claramente nível mais. Mas Salvio terá problemas para dar à equipa o que o sérvio se habituou a dar. Desde logo na transição defensiva e na forma como o sérvio equilibrava a equipa. E sobretudo a inexistência de capacidade do argentino para progredir para o corredor central e dar superioridades numéricas em progressão. O Benfica perderá aqui e sem 2 alas capazes de perceber e jogar como poucos pelo corredor central (Nico e Markovic) as dinâmicas colectivas serão naturalmente muito diferentes.

4x3x3. Tem de ser olhado por Jesus com outros olhos porque não tem neste momento jogadores para interpretar o seu modelo e jogar da forma como gosta. Sobretudo garantir uma capacidade e coesão defensiva em inferioridade top como existia o ano passado, e também qualidade no processo ofensivo com a inclusão de vários jogadores pelo corredor central. Essa deve ser a sua principal preocupação neste momento. Os melhores jogadores deste Benfica actual são os jogadores que conseguem ter bola e controlar o jogo pela posse. E sem um avançado de grande nível que consiga ligar sectores e jogar entre-linhas, Nico Gaitán não pode andar a jogar encostado ao corredor lateral muito mais tempo.

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Formação e as vitórias das selecções



Portugal voltou a realizar uma grande campanha ao nível das selecções jovens, depois do Mundial de sub-20 onde se sagraram vice-campeões. Desta vez foram os sub-19 na Hungria que apenas foram batidos pela Alemanha na final. Estes são, contudo, resultados que não nos mostram a realidade do que se passa no nosso futebol.

O talento de rua está cada vez em mais risco de desaparecer. Mas a culpa não é só das novas modas e da nova sociedade. A culpa é também dos clubes, dos treinadores, dos dirigentes, dos modelos competitivos, da cultura do próprio país. Em Portugal continua a brincar-se à formação, às vitórias e ao sucesso, quando se devia desenvolver um trabalho sério ao nível da formação de jovens talentos e da preparação das suas competências para o futebol profissional.

São poucos os clubes que abdicam de uma vitória esporádica para potenciar um jogador. O problema não está só na questão de "saltar etapas", ou como defendemos, preparar o jogador no contexto competitivo que lhe permite maiores estímulos e que coloca o jogador perante as dificuldades ideais para uma maior evolução. Está também nos modelos que os treinadores praticam actualmente. Coisas fechadas, sem espaço para o improviso, para a liberdade, para o erro, porque o resultado final continua a ditar processos no nosso futebol.


Portugal hoje jogou com a Alemanha na final de uma prova europeia que se deu ao luxo de não convocar os 5 melhores jogadores da idade (Leon Goretzka, Serge Gnabry, Timo Werner, Max Meyer e Jonathan Tah) por considerarem que estão já em outro patamar. Não se importaram com o resultado final. Quiseram formar, e acabaram a ganhar. Jogadores já noutro patamar, como alguns dos seleccionados, já com bagagem de 1ª e 2ª Liga alemã.

Honra feita ao FC Porto por ter Ivo Rodrigues e Tomás Podstawski todo o ano a competir na 2ª Liga, tal como esporadicamente Rafa e André Silva, ou Riquicho no Sporting. Do outro lado é um iate, onde as máximas exigências são num campeonato nacional de Juniores que prepara muito pouco os jogadores para outros patamares de exigência.

Desengane-se quem pensar que este resultado fará as pessoas mudar a sua forma de dirigir ou de apostar no jovem talento nacional. Vamos analisar os 11's de Portugal e Brasil que disputaram a final do Mundial sub-20 e perceber onde estão os jogadores nos dias de hoje:


Há comparação possível? Tendo em conta que falta, ainda, por exemplo, Phillipe Coutinho, do Liverpool, que acabou por ser substituído neste jogo? Não é só questão de falta de aposta, é questão de em Portugal se preveligiar modelos resultadistas em vez de modelos que permitam a evolução dos atletas.

Chega-se a estes momentos e as selecções até acabam por ter alguns resultados de qualidade mas pelo facto dos seus atletas raramente serem colocados em níveis de exigência que lhe permitam outros níveis de maturação e reais possibilidades de evolução, o seu talento momentâneo a certo momento acaba por se diluir e perder no tempo.


O que teria sido desta geração de 2011 na Colômbia com outro trabalho de base e outra continuidade de aposta neles? Hoje é fácil apontar pouca qualidade a quase todos os seus intervenientes. Pois. Depois do mal estar feito, realmente não há como voltar atrás.

Portugal precisa urgentemente reformular todos os seus modelos e todas as ideias impostas na nossa sociedade, que por vezes são o que define e condiciona qualquer tipo de trabalho que se pretenda fazer a nível de clubes e selecções.